segunda-feira, 25 de abril de 2011

Encontros incomuns


O que seria do homem se os caminhos apenas o conduzissem ao descolorido do óbvio ou ao enfadonho do predeterminado? Provavelmente, os dias perderiam a frescura da novidade e os sonhos negar-se-iam a surpreender.
A Páscoa estava para breve e os alunos já não precisavam de se levantar tão cedo. Na verdade, as férias escolares haviam chegado, e com elas todo aquele encanto que as define: dormir até mais tarde; algumas passeatas pelas ruas e praças; no café, as conversas prolongam-se até mais tarde; visionam-se filmes; descobrem-se novos jogos; incrementam-se alguns namoros; e por aí fora…
No que a mim diz respeito, e creio que acontece com todos os trabalhadores, também aprecio uma pausa no trabalho. Serve para retemperar as forças e para fazer certas coisas, que no comum dos dias dificilmente se efectuariam: por exemplo, passear à tarde pelas ruas da cidade na companhia da minha esposa.
Sabe bem lançar os pés ao caminho e deixarmo-nos levar pela despreocupação dos instantes, olhando para a esquerda e para a direita, para a frente e para trás, sempre na ânsia de colher algo de novo, ou então, encontrar um amigo que nos afague a memória e nos empreste um sorriso.
A tarde estava solarenga e quase sem dar por isso, a nossa caminhada já roçava a escadaria do Jardim do Calvário, que, lá em cima, mantinha aquela soberba postura que todos admiramos. Ainda bem que as cidades não se esquecem de preservar certos lugares emblemáticos, enfeitados de flores, lagos calmos, árvores centenárias e mil memórias. Claro que não levámos muito a ponderar. Arregáçamos as vontades e, com uma naturalidade a condizer, que causou alguma admiração em três colegas nossos que cavaqueavam numa esplanada ali em frente, fomos revisitar este velho coração de Fafe. Que sensação maravilhosa quando transpusemos os portões e reparámos no empenho de boas vindas que nos era lançado. Há um bom para de anos que não mergulhava neste protectorado na companhia da minha esposa.
Como é bom regressarmos aos sítios que nos querem bem!
Em nosso redor, os canteiros mostravam a custo as suas flores, no lago, um cisne pavoneava-se para os que reparavam nele, as árvores estavam esplendorosas, a passarada chilreava sem fim e um misto de pessoas povoava as clareiras. Nos bancos, alguns pares de namorados trocavam uns mimos não muito ousados, uma mãe tentava adormecer o seu filhinho, alguns senhores de idade relembravam o passado, dois rapazes dos seus trinta anos estavam para ali a fazer não sei o quê e duas mulheres de meia-idade jaziam quietas encostadas a um saco de compras, talvez à espera duma oportunidade de verem algo que as enchesse de pasmo, e que pudesse ser contado às amigas do bairro.
E porque a circunstância o exigia, de mãos dadas e um pouco comprometidos, a minha esposa e eu percorremos em silêncio e de uma forma pausada o carreiro de saibro que circundava o jardim. Talvez estivéssemos à espera de um segredo qualquer ou até, quem sabe de um motivo para um singelo beijo. Claro que a nossa atenção se colocou em riste, quando passamos junto do parque infantil. Ali se demorou a olhar para as crianças que, numa organização ingénua, se engalfinhavam no escorrega e nos baloiços.
Como o tempo passa! O nosso filho mais velho já tem mais de vinte anos, e era ali que o trazíamos quando era pequenino. Uma lágrima inquieta colou-se-me ao rosto e uma brisa minha conhecida disse-me para continuar.
A dada altura, e por sugestão minha, sentámo-nos no único banco de madeira disponível, e deixámo-nos por ali ficar. Do longe, sentimos chegar o som abafado do sino da Igreja nova que bateu pachorrentamente as dezassete horas. Do perto, vimos claramente o riso de uma criança de pouca mais de dois anos que corria atabalhoadamente à frente da mãe, que num esforço extra empurrava um triciclo de plástico. Nessa altura, lembrei-me do meu pai e do triciclo que ele me trouxe da feira de Alfândega da Fé. Como eu pedalava rua a baixo, sem um qualquer medo que me tirasse o jeito de criança!
Regressado ao tempo presente, deixámo-nos ficar por ali algum tempo. Conversámos sobre várias coisas, algumas banais, outras nem por isso. Comentámos certas posturas que se dispunham a nossos olhos e achámos curioso o facto de um velhote em boas condições físicas optar pelo elevador para sair do jardim, em vez de escolher o percurso normal, ocorrência pouco usual em muitos jardins de países desenvolvidos. Também não deixámos passar em claro um quadro deveras interessante que se desenhou de uma forma esplendorosa à nossa frente. Num ramo de uma árvore, estavam duas rolas pousadas numa atitude de confidência. O que diriam elas? Só Deus sabe porque as criou.
A dada altura, e num momento em que o silêncio havia tomado a minha atitude, aconteceu algo tão estranho, e ao mesmo tempo tanto especial, que nem a minha esposa deu por isso. Pelos vistos só eu é que estava destinado a ouvir as palavras que uma mulher dos seus setenta anos me atirou contra a minha estupefacção. E por quê? Deus sabe porque me criou.
- Desculpe, posso sentar-me? – Arremessou-me uma mulher vestida de escuro e com um lenço na cabeça. - Sabe, Senhor, estou um pouco cansada e os bancos estão todos ocupados.
- Por quem é, faça o favor de se sentar – respondi-lhe num tom atencioso.
Por algum tempo, a dita mulher dos seus setenta anos, pareceu fechar os olhos e dormir, mas a dada altura, virou-se para mim, e num tom tingido de ânsia e preocupação, disse-me.
- Tem filhos?
- Tenho três.
- Eu também tenho três filhos e…
Durante algum tempo fomos conversando dos filhos e não deixei de reparar em muitas coincidências nas nossas vidas, principalmente quando me mostrou o seu desespero pelo que podia estar acontecer com dois deles. Os olhos da senhora começaram a parecer-me familiares e um leve perfume a rosmaninho, misturado com outras flores do campo parecia enredar as suas palavras.
- Sabe, o meu filho mais velho, aqui há uns anos, teve um problema grave de saúde. Graças a Deus melhorou, e durante algum tempo tudo parecia correr pelo melhor. Só que agora parece que se esqueceu da sorte que teve e segue os seus dias como se nada tivesse acontecido. Assim que tal, volta-lhe a dar qualquer coisa e vai ser uma desgraça – insistia a mulher, como que querendo que eu entendesse as suas palavras.
Não sei porquê, mas o que eu estava a ouvir não me era estranho, e, muito menos, longe do percurso dos meus dias. E dado que ainda tinha mais para contar, a sua voz fez-se novamente ouvir.
- Sabe, Senhor, também tenho uma filha formada, mas as coisas nem sempre lhe correm de feição. Até parece que as forças do mal a perseguem. Muitas são as vezes em que me telefona…
A partir daqui, fui escutando muitas realidades que eu conhecia, até que a mulher achou por bem ir-se embora, como que tivesse cumprido uma tarefa de que foi incumbida. Na despedida, e por incrível que pareça, afagou-me o rosto com as suas mãos algo cansadas e disse-me que em breve a encontraria em sua casa. Ainda quis saber alguns pormenores adicionais e perceber as razões de tanta franqueza, mas as palavras insistentes da minha esposa impediram-me de o saber e trouxeram-me de volta àquela tarde solarenga e especial de Abril.
- Ó homem, tu adormeceste? Vamos embora que já é tarde.
Regressados a casa, e sem contar este meu sonho ocasional, lá fui preenchendo os minutos desse dia com outros afazeres, mas sem nunca esquecer o que me tinha acontecido. Será que é o que estou a pensar? As coincidências, às vezes, assustam-me.
Nessa noite, deitei-me mais tarde, mas mesmo assim, fui atirado para um tempo longínquo e um espaço não muito afastado do meu alcance. Sonhei que eu era uma daquelas centenas de pessoas que, com uma palmeira na mão, saudavam a Jesus Cristo, quando entrava triunfante na cidade de Jerusalém. E o mais curioso é que no preciso momento em que o redentor passava bem na minha frente, reparei que me focalizou e vi que o brilho dos seus olhos era o mesmo da mulher de setenta anos com quem havia conversado, já para não falar do perfume a rosmaninho e a flores do campo que, também, ali me circundaram. Depois disso, só me recordo da forma triste com que o filho de Deus se despegou do meu reparo, para, conformado, seguir o seu destino.
Nem sempre consigo entender o significado dos sonhos, mas pelo que pude verificar nestes meus encontros incomuns, creio que os percebi perfeitamente.
O que seria da ligeireza das abelhas se não soubessem medir a fúria das tempestades.

Carlos Afonso (Carlosehistorias.blogspot.com)

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Aconteceu em Madrid

Por muito distantes que os países sejam ou por muito diferentes que as gentes se mostrem, há sempre um olhar ou um gesto que nos mostram a universalidade de Deus.
Depois de uma visita rápida ao museu do Prado de Madrid, tanto eu como os meus colegas e os alunos que nos acompanhavam, uma vez que os demais preferiram outros espaços, tivemos de virar as costas àquela imensidade de arte e inspiração, pois a viagem de regresso a Fafe estava para breve e ainda havia alguns pormenores a esclarecer.
Dentro do museu, ficou a promessa de voltar. No exterior, o sol quase abrasador e o chilrear de algumas aves, as poucas que se faziam ouvir, ajudavam a recompor do abandono necessário de um ambiente artístico tão especial.
Em plena avenida, os automóveis corriam consoante os mandos dos sinais luminosos, enquanto os nossos passos pareciam querer voar, tal era a pressa.
A dada altura, na fachada dum edifício, e para que pudesse ler tive de parar, facto que passou ao lado dos meus companheiros de jornada, uma frase chamou-me à atenção. Não só pelo seu sentido, que achei curioso, mas também pelo facto de cada uma das palavras estar tingida de uma cor diferente, conforme os tons da bandeira espanhola. Podia ler-se apenas o seguinte: Se me estás a ler, é porque estás em Madrid. Claro que a frase estava na língua dos nuestros hermanos e eu estava em tão real cidade.
Já nós continuávamos a maratona na direcção de um qualquer restaurante que nos aliviasse a fome, quando o telemóvel de um colega tocou. Às vezes recebemos notícias boas, o que só nos enchem de prazer, mas noutras ocasiões nem por isso. De facto o que o meu colega ouvira, e que nos transmitiu logo de seguida, preocupou-nos muito e fez-nos correr na direcção do restaurante Mcdonalds, situado bem no extremo da avenida. Pelos vistos, uma aluna nossa não se estava a sentir muito bem, depois de ter almoçado.
Chegados ao local, imediatamente nos deparamos com o drama da menina indisposta, assim como das lágrimas que lhe banhavam o rosto. Coitada! Vir a Madrid para se divertir e colher o muito que esta grande cidade lhe podia dar, e acontece logo isto. Paciência, os momentos nem sempre nos satisfazem a alma e nem nos aquecem a vontade.
Apanhados por um inesperado de que não estávamos à espera, e uma vez que a menina parecia querer piorar, tentou-se, de imediato, pedir socorro ao 112. Ainda se diligenciou algum esclarecimento numa senhora trigueira, já com alguma idade, sentada num banco em frente, mas de nada valeu. Provavelmente os cuidados desta senhora estavam direccionados para uma outra rota. Talvez o vazio.
Em redor, a cidade mexia-se e não parecia querer inquietar-se com a nossa aflição. Bem encostado a nós, um punhado de emigrantes africanos tentava vender alguns haveres, sem que a polícia soubesse, ao mesmo tempo que uma escultora, numa postura original, fazia uma recriação interessante, mas que pouco nos ofereceu, pois a nossa atenção estava noutro lugar.
Sem que nada o indiciasse ou o determinasse, um homem baixote, com pouco mais de trinta anos, com a pele levemente tisnada e uma calma que lhe dava um ar de gente boa, aproximou-se de nós e apresentou-se como médico. Provavelmente, ele era um de muitos que naquela hora passava naquele lugar, assinalado numa placa que jazia presa a uma fachada: Paseo del Prado. Admirados com o gesto deste madrileno amante dos que precisam, imediatamente uma certa calma nos afagou a alma e as suas providências não se fizeram esperar. Depois de uma primeira auscultação à sua doente ocasional, e após umas primeiras conclusões, o dito médico achou por bem chamar o 112. Enquanto a ambulância não chegava, aquele homem, a quem não perguntamos o nome, permaneceu no seu posto de acção. E, tal qual um guardião de um tesouro a preservar, ele esperava, acalentava o espírito agitado da nossa aluna, ia contornando a situação e reconfortava-nos a esperança.
Ao longe, o barulho estridente de uma sirene interrompeu, por momentos, os muitos sons típicos de uma grande cidade, àquela hora do dia. Bem ao nosso lado, os emigrantes africanos saíram de cena, não fosse a polícia alertá-los para a sua ilegalidade. Quanto à tal escultora, ela continuava na sua azáfama de se enquadrar com a sua obra de arte. Que insistente teimosia ela demonstrava!
Mal a ambulância estacionou, a nossa aluna foi de imediato vista. Conduzida ao interior da mesma, ali permaneceu algum tempo. E, porque o seu tempo chegara ao fim, e, uma vez que dera como concluída a sua tarefa de bom samaritano, o dito médico colocou a sua sacola ao ombro e desapareceu no meio da multidão. No seu rosto de dever cumprido pareceu-me ver desenhado um sorriso especial, enquanto do seu olhar eu juro que vi despegar-se um leve aroma adocicado. Da forma como se afastou, depois de ter recolhido os nossos agradecimentos, só podia levar a crer que o seu coração o encaminhava para uma outra circunstância, que exigia a sua presença. Como é bom saber que podemos contar com a boa vontade dos outros!
Quanto à nossa aluna, tudo não passou duma passageira indisposição.

Carlos Afonso

sexta-feira, 25 de março de 2011

O homem que encontrou a flor mais bela do mundo

Há muito pouco tempo atrás, numa das mais belas terras do Minho, vivia um homem que passava a maior parte do seu tempo à procura de três coisas: uma certeza que lhe tirasse todas as dúvidas; um caminho que lhe mostrasse todos os pontos de chegada e uma flor que fosse a mais bela do mundo.
Por muito que procurasse, por muitos esforços que fizesse, um certo desânimo começava a adensar-se no seu peito e os seus olhos já não sabiam ao certo de que lado vinha a luz. Na verdade, era difícil encontrar todo o possível no meio do impossível. E muito mais complicado seria descortinar a perfeição no meio do acinzentado das hipocrisias. Se uma certeza se aproximava do seu entendimento, dezenas de dúvidas choviam em seu redor. Se um caminho lhe indicava um rumo, logo a seguir ficava sem saber de que lado estava o norte, e se o sul estaria nesta ou naquela direcção. O único objectivo que ainda lhe restava colher nas suas mãos, e para que tudo não fosse em vão, era encontrar a flor mais bela do mundo.
Os muitos jardins e quintais, hortas e prados, montes e vales que rodeavam a terra onde morava esse homem eram de muita beleza, tingidos de muitas cores e aromas, sempre enquadrados por um verde muito típico e o azul do céu. Mas, se uma rosa que vira num jardim qualquer lhe parecia a mais bela, mal olhava para o lírio perfumado que adornava um recanto mais além, já não sabia o que achar. Se uma ameixeira em flor lhe adoçava a alma, um cravo rubro que despontava numa sacada arejada baralhava-lhe o acreditar. E por aí fora.
E agora?
Será que esse homem teria de desistir do seu sonho e da sua procura, que começava a parecer inglória?
Estávamos num mês um pouco diferente dos outros meses e num dia em que o sol fez questão de se mostrar mais brilhante. O homem, e tal como fazia muitas vezes, cumpriu algumas obrigações profissionais na escola onde trabalhava, calcorreou algumas ruas e praças da cidade onde morava, subiu a um jardim com nome (do Calvário), olhou o casario disposto lá em baixo e deixou-se levar por um ténue instante.
Não se sabe se o pardal que lhe passou ao de leve pelo olhar lhe disse algum pormenor ou se a criança que o fixou, bem lá do fundo da rua, o inspirou, o certo é que o tal homem, que por sinal era professor, sentou-se num dos bancos que por ali se dispunha, tirou um caderno da pasta, escreveu qualquer coisa, manteve o caderno aberto, olhou o céu e, depois, sorriu.
Será que encontrou o que procurava? Será que a flor que ansiava há tanto tempo lhe apareceu nos seus desígnios?
Como que quisesse que todas as pessoas que habitam o seu amor de cidade partilhassem aquele momento de deleite, levantou-se, deu alguns passos firmes em direcção ao portão que serve de entrada ao centenário jardim, abriu o caderno e mostrou a razão do seu contentamento.
Bem no centro estava um tosco desenho, mas muito claro na mensagem que queria transmitir.
Era, sem sombra de dúvida, a flor mais bela do mundo, (pelo menos para ele).
As pétalas representavam todas as escolas do concelho onde o homem morava. O caule, e tal qual o elo de ligação entre toda a componente da flor, simbolizava o município que rege os desígnios daquelas paragens. As raízes, e porque não podia deixar de ser, mostravam, claramente, a escola onde ele trabalhava.
Por baixo desta flor tão especial estava escrito com letras bem destacadas: 2ªs Jornadas Literárias de Fafe.
Será que algum dia este singelo desenho, a precisar de alguns acertos, irá florir a sério e enfeitar alguma realidade a precisar de decoro?
Eu penso que sim. Basta apenas que a alma dos homens entenda que é na educação e na cultura, e na força que as sustenta e move, que está o encanto das madrugadas e o caminho do futuro.
Carlos Afonso

quinta-feira, 3 de março de 2011

Fafe nos caminhos da Literatura

A menos de quinze dias das 2ªs Jornadas Literárias, que decorrerão entre os dias 14 de Março e 21 de Março, altura em que os criadores literários de Fafe terão um papel de destaque numa multiplicidade de iniciativas espalhadas por todo o concelho, Vozes da Secundária entendeu por bem recuperar uma pequena parte de um trabalho realizado pelos alunos de Literatura Portuguesa da Escola Secundária para as anteriores jornadas, denominado De Fafe com Amor, e que mereceu o aplauso de várias entidades. Tendo consciência de que não foi possível estudar todos os escritores, esta primeira tentativa de mostrar um pouco do que alguns criadores têm produzido ao longo dos anos, visto pelo olhar ingénuo dos alunos, teve o mérito de trazer à luz do dia o muito que Fafe tem dado à Literatura Portuguesa.
Sabendo nós que o caminho ainda não tinha chegado ao seu término, a primeira tentativa, iniciada o ano passado, está a ter seguimento neste ano lectivo. Na verdade, e porque o trabalho não podia parar, os alunos de Literatura Portuguesa do 11º Ano continuam a aprofundar o estudo de certos autores fafenses, assim como começaram a estudar outros, pois a paisagem literária que nos rodeia é riquíssima.
Como corolário desta segunda iniciativa, realizar-se-á no dia 14 de Março, pelas 17h30, na Escola Secundária, no âmbito das 2ªs Jornadas Literárias, um encontro de escritores fafenses, apelidado de Fafe nos caminhos da Literatura, e que está aberto a todos aqueles que amam o sentir das palavras.
E porque Deus existe e os homens são do tamanho do seu querer, acreditamos que, num futuro próximo, todo este trabalho de dois anos possa ter os seus frutos merecidos com a publicação de uma Antologia Literária a que podíamos chamar (e porque não?) Fafe, meu Amor.

« (…)

“A nossa terra é formosa
Como ela não há igual
É a mais perfeita rosa
Das terras de Portugal.”
Hino de Fafe



A cidade de Fafe acolhe-se sob outeiros expostos ao sol, onde cinzentos graníticos emergem de um extenso manto verde, serpenteado por joviais ribeiros. Dependurados das encostas, frondosos pinheirais abraçam velhos carvalhos, que permanecem agarrados à rudeza do tojo bravio e acolhem nos seus ramos os queixumes das ervas bravas e os murmúrios dos ventos do norte.
Esta terra minhota, apelidada de sala de visitas do Minho, veste-se de asseados jardins, perfumados de poesia, que adocicam os nossos ouvidos e alimentam a alma. Quem passa, pode sentir toda uma envolvência, onde o aroma das flores mais belas se entrelaça com os versos mais sentidos de alguns poetas fafenses.
O espaço urbano veste-se de todo um casario, onde a imponência das casas dos Brasileiros ombreia com estilos arquitectónicos diversos, gravando na pedra e no cimento toda a história de um povo.
Qualquer visitante que percorra as ruas de Fafe, ou fale com as suas gentes, compreende que se encontra num espaço aprazível e acolhedor, enfeitado de praças, arreigados costumes e um amor à cultura, que brota da calma das tílias.

À sua volta, os rios Ferro e Vizela espraiam-se livremente, avivando o verde dos pauis e espargindo uma leve frescura pelos espaços, que dá de beber às aves e pinta toda esta paisagem de um bucolismo romântico e ameno.

Desde os primeiros tempos da sua existência que Fafe se orgulha de ser uma terra de poetas e de prosadores. Do seu seio têm brotado homens e mulheres que se servem das palavras para exprimirem uma multiplicidade de sentimentos, crenças e sonhos. Ruy Monte, Soledade Summavielle, Artur Coimbra, Pompeu Martins, Augusto Lemos, Salgado Leite, Nuno Bastos, José Peixoto Lopes, Valdemar Gonçalves, João Ricardo Lopes, Tiago Magalhães, Acácio Almeida, José Augusto Gonçalves, entre muitos outros, fazem parte dum dourado corpo literário que adorna as estantes da cultura fafense.
Sempre possuidores de uma visão atenta, umas mãos destemidas e um coração tremente, os vários autores fafenses, e como se pode comprovar nos vários textos analisados, gravam, nas suas criações, temáticas variadas, tingidas por sentimentos, anseios, dúvidas, certezas, gritos, paisagens, amores, desamores, liberdade, recusas, risos e (…)»

Carlos Afonso

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Fafe nos caminhos da Literatura

A menos de um mês das 2ªs Jornadas Literárias, que decorrerão entre os dias 14 de Março e 21 de Março, altura em que os criadores literários de Fafe terão um papel de destaque numa multiplicidade de iniciativas espalhadas por todo o concelho, Vozes da Secundária entendeu por bem recuperar uma pequena parte de um trabalho realizado pelos alunos de Literatura Portuguesa da Escola Secundária para as anteriores jornadas, denominado De Fafe com Amor, e que mereceu o aplauso de várias entidades. Tendo consciência de que não foi possível estudar todos os escritores, esta primeira tentativa de mostrar um pouco do que alguns criadores têm produzido ao longo dos anos, visto pelo olhar ingénuo dos alunos, teve o mérito de trazer à luz do dia o muito que Fafe tem dado à Literatura Portuguesa.
Sabendo nós que o caminho ainda não tinha chegado ao seu término, a primeira tentativa, iniciada o ano passado, está a ter seguimento neste ano lectivo. Na verdade, e porque o trabalho não podia parar, os alunos de Literatura Portuguesa do 11º Ano continuam a aprofundar o estudo de certos autores fafenses, assim como começaram a estudar outros, pois a paisagem literária que nos rodeia é riquíssima.
Como corolário desta segunda iniciativa, realizar-se-á no dia 14 de Março, pelas 17h30, na Escola Secundária, no âmbito das 2ªs Jornadas Literárias, um encontro de escritores fafenses, apelidado de Fafe nos caminhos da Literatura, e que está aberto a todos aqueles que amam o sentir das palavras.
E porque Deus existe e os homens são do tamanho do seu querer, acreditamos que, num futuro próximo, todo este trabalho de dois anos possa ter os seus frutos merecidos com a publicação de uma Antologia Literária a que podíamos chamar (e porque não?) Fafe, meu Amor.

« (…)

“A nossa terra é formosa
Como ela não há igual
É a mais perfeita rosa
Das terras de Portugal.”
Hino de Fafe



A cidade de Fafe acolhe-se sob outeiros expostos ao sol, onde cinzentos graníticos emergem de um extenso manto verde, serpenteado por joviais ribeiros. Dependurados das encostas, frondosos pinheirais abraçam velhos carvalhos, que permanecem agarrados à rudeza do tojo bravio e acolhem nos seus ramos os queixumes das ervas bravas e os murmúrios dos ventos do norte.
Esta terra minhota, apelidada de sala de visitas do Minho, veste-se de asseados jardins, perfumados de poesia, que adocicam os nossos ouvidos e alimentam a alma. Quem passa, pode sentir toda uma envolvência, onde o aroma das flores mais belas se entrelaça com os versos mais sentidos de alguns poetas fafenses.
O espaço urbano veste-se de todo um casario, onde a imponência das casas dos Brasileiros ombreia com estilos arquitectónicos diversos, gravando na pedra e no cimento toda a história de um povo.
Qualquer visitante que percorra as ruas de Fafe, ou fale com as suas gentes, compreende que se encontra num espaço aprazível e acolhedor, enfeitado de praças, arreigados costumes e um amor à cultura, que brota da calma das tílias.

À sua volta, os rios Ferro e Vizela espraiam-se livremente, avivando o verde dos pauis e espargindo uma leve frescura pelos espaços, que dá de beber às aves e pinta toda esta paisagem de um bucolismo romântico e ameno. (…)

Desde os primeiros tempos da sua existência que Fafe se orgulha de ser uma terra de poetas e de prosadores. Do seu seio têm brotado homens e mulheres que se servem das palavras para exprimirem uma multiplicidade de sentimentos, crenças e sonhos. Ruy Monte, Soledade Summavielle, Artur Coimbra, Pompeu Martins, Augusto Lemos, Salgado Leite, Nuno Bastos, José Peixoto Lopes, Valdemar Gonçalves, João Ricardo Lopes, Tiago Magalhães, Acácio Almeida, José Augusto Gonçalves, entre muitos outros, fazem parte dum dourado corpo literário que adorna as estantes da cultura fafense. (…)
Sempre possuidores de uma visão atenta, umas mãos destemidas e um coração tremente, os vários autores fafenses, e como se pode comprovar nos vários textos analisados, gravam, nas suas criações, temáticas variadas, tingidas por sentimentos, anseios, dúvidas, certezas, gritos, paisagens, amores, desamores, liberdade, recusas, risos e (…)
Se prestarmos atenção à linguagem e ao estilo dos poetas e prosadores estudados, comprova-se que a simplicidade e ingenuidade descritiva e narrativa de uns complementam um maior cuidado e labor de outros. Se o concreto natural dos nomes, associado ao objectivismo da adjectivação nos atira para as frondosas paisagens minhotas, a perspicácia da metáfora e a leviandade da aliteração, associada à insistência da anáfora, mostra-nos o sentir das almas, e o que está para além do sol. (…)»
Carlos Afonso

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Um amor, uma vida!

Sempre que me lançares um sorriso, eu prometo-te a minha alma. Sempre que me ofereceres os teus afectos, eu asseguro-te o
meu coração. Sempre que me deres o teu corpo, eu desvendo-te os
meus segredos.

O verdadeiro amor não se planeia ou elabora, guiado pelo pendor da consciência, longe da pureza dos momentos. O verdadeiro amor desabrocha de uma forma natural, bem dentro do coração, impelido por um gesto, um olhar, um sorriso sincero ou um simples instante de sorte. Mas, e tal qual as flores dos prados aceitam receber na sua intimidade a incauta abelha, para que esta dê azo ao seu destino, o homem deve deixar-se possuir pela real dimensão do amor e esperar que as nascentes não percam a sua dimensão cristalina e a aragem continue a guiar o rumo das aves.
Alberto nunca pensou que aquela praça granítica, cravada numas das zonas mais emblemáticas de Braga, espaço onde muitas histórias tiveram o seu ocaso, fosse o começar de uma vida plena de confidências, partilhas e futuros sempre a cimentar. De certeza que os caminhos que o trouxeram até ali sabiam o que ia acontecer. Se assim não fosse, a noite não estaria tão amena e as estrelas só viriam mais tarde.
Provavelmente, aquele olhar trémulo que Maria deixou escapar, naquele mês de Maio que o tempo gravou na correnteza dos tempos, não era destinado a Alberto. Mas isso não teve qualquer importância, pois os anjos desceram à terra e desviaram a sua trajectória.
Tiveste sorte, meu rapaz!
O poeta diz, e com razão, que o coração nem sempre obedece aos desígnios da razão. Ainda bem que assim é, pois, caso contrário, as flores só mostrariam o seu encanto na Primavera e os dias cairiam num enfado sem novidade.
Para quem pensava regressar às terras donde nasceu, lá para os lados do Marão, no reino encantado de Trás-os-Montes, depois de concluir o seu curso na Faculdade de Filosofia, aquele encontro ocasional de Alberto e Maria inverteu o curso de um sonho de anos. A ideia de voltar como professor aos espaços da sua infância criavam em Alberto uma alegria compreensível, aguçada aqui e ali pelo capricho de poder passar por eles numa outra condição, arrancada a ferros de uma existência de vários anos, na companhia de muitos livros e noites mal dormidas. Mas, e tal qual a ave da ribeira descasca as bagas do zimbro, ajudada pela ingenuidade de um movimento, o olhar não intencional daquela esbelta rapariga apagou uma vontade que parecia inquebrável, e acendeu uma estrela que, e depois de muitos anos, ainda dura e, de certeza, continuará a brilhar, até que os deuses a cubram com o seu manto.
Para bem dos caminhos encurvados que levam os que procuram, e aprazimento daqueles instantes que decoram os anseios dos homens, é bom saber que ainda há corações crentes em olhares sem mágoa e pudores inocentes pregados a rostos com nome, impelidos por lágrimas que nem sempre se mostram. É em torno destas circunstâncias estendidas sobre paisagens de muitas formas, e de janelas expostas à luz, que o amor aparece e, num tom de excelência, deixa bem claro que não deseja esfumar-se em restos de nada.
Só é de lamentar, e se calhar a culpa é do vento, constantemente embrulhado na indefinição da direcção da sua força, que muitos compromissos se quebrem, justificados por vozes e atitudes que, geralmente, deixam muito a desejar.
Não, não me acusem de ser um desenraizado dos tempos, e muito menos de um prosador sem plano, ou até de um ser qualquer que se emociona quando saboreia os sonetos de Camões.
Não, não me mandem escrever rimas soltas na poeira do chão, sempre que está para chover.
As minhas certezas e o meu acérrimo acreditar na força viva do amor têm todos os ingredientes necessários para contaram com a bênção do perfume das rosas amarelas, ainda antes de serem cortadas por mãos sem jeito. E sabem porquê?
Porque eu conheço, e muito bem, as linhas com que se entrelaça o amor do Alberto e da Maria.
Em véspera do dia dos namorados, não questionem o atrevimento de vos deixar nas linhas desta história alguns versos que roubei a um breve momento de inspiração:
Sonhos de água…

Se me pedires a clareza de um olhar,
O meu peito abrir-se-á de par em par e…
Neste rosto, que me define, nascerão mil vontades.
Ousadias cobertas de cor
Ocultarão a palidez da indiferença e muitas
Fantasias fluirão do nosso querer, indiferentes a preconceitos sem jeito!

Depois de certezas férteis semeadas nas nossas almas,
Erguer-se-á, leve, a ternura das fontes e o céu esperará por nós!

Água salubre, escorrida de nuvens feitas de carícias,
Gotejará do roçar consentido dos nossos corpos,
Unidos por linhas que o tempo tecerá,
Antes das madrugadas começarem a acordar!

Carlos Afonso

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Obrigado

É bom saber que os outros acreditam no nosso trabalho e respeitam a nossa forma de estar na vida. Obrigado "Jornal Povo de Fafe" pelo seu reconhecimento e consideração.
O que seria da correnteza dos rios sem o empenho cristalino das nascentes?
Carlos Afonso