sexta-feira, 20 de julho de 2012

Para o meu amigo, o Sr. Zé do “Talho”





          Lembro-me como se fosse hoje, o dia em que conheci o Sr. Zé do “Talho”, um homem simpático, alegre e muito prestável. Um homem que eu conheci há mais de vinte anos e que Deus, há poucos dias atrás, achou por bem levá-lo para junto de si.

É com uma mão cheia de lágrimas a escorrerem-me pelo rosto que estou a escrever este artigo, todo ele direcionado para o meu amigo, o Sr. Zé do “Talho”, como forma de lhe prestar uma sincera homenagem. Eu sei que a morte tem por costume afastar-nos, visualmente, de pessoas de quem gostamos. O que vale é que o coração e a memória são mais abrangentes, e guardam para todo o sempre o que nos é querido. De facto, a morte apenas nos torna levemente invisíveis. Por isso, para mim, nada mudou. Continuarei a conviver com aquele sorriso convicto e positivo que, habitualmente me era oferecido pelo meu amigo, quando nos cruzávamos ao acaso ou de propósito na rua. Só lamento, com toda a veemência que é possível, o sofrimento e a dureza que acompanharam os seus últimos passos neste mundo material e nem sempre apetecível. Não era necessário tanto padecimento só porque estava na hora de uma viagem diferente. Mas que havemos de fazer? Os caminhos nem sempre nos levam onde nós gostaríamos de chegar, e Deus, às vezes, tem por hábito mostrar os seus desígnios de uma forma que nos dá que pensar.

Conheci o Sr. Zé do “Talho” na altura em que morava na rua Monsenhor Vieira de Castro, num apartamento junto ao campo de futebol do Fafe, por cima da actual Escola de Bailado de Fafe. Tomei contacto com ele, porque, nesse tempo, ele trabalhava num talho mesmo em frente do sítio onde eu morava, e, porque me era conveniente, tornei-me seu cliente. Sempre me serviu com qualidade e respeitosamente, facto que me levava a ir ao seu estabelecimento não só para fazer compras como também para conversar e por ali ficar algum tempo.

Muitos episódios podia colar neste artigo para mostrar a minha rica convivência com o Sr. Zé, mas, para já, não é relevante contá-los todos. Por isso, vou limitar-me a fazer referência a dois casos, e que ajuda em muito a retratar o grande homem que o meu amigo foi e que continua a ser.

A sua grande generosidade levou-o múltiplas vezes a convidar-me para assistir da varanda de sua casa, situada no Lombo, no lugar onde a lenda diz que apareceu Nossa Senhora, para assistir às cerimónias religiosas do regresso da Nossa Senhora da Misericórdia a Antime. Nunca usufrui desse préstimo porque não quis, mas o convite hospitaleiro foi-me direcionado, como referi, várias vezes.

Recordo, também, o momento em que lhe contei que ia mudar de casa, e que ia morar para os lados da Fábrica do Ferro, acrescentando-lhe de seguida de que a minha filha gostaria de ter um cão, pois o espaço assim o permitia. Se bem lhe disse a intenção a minha filha Ana Teresa, melhor foi o resultado da nossa conversa. Pois, meus caros leitores, mal a tarde desse mesmo dia chegou, e por intercessão do Sr. Zé, a sua esposa, uma mulher formidável e que também muito admiro, estava a bater à minha porta com um pequeno e fofo cachorrinho, filho de uma cadela que morava com eles. Foi uma grande alegria lá em casa. Colocámos o nome de Póli ao cachorro e que ainda hoje é vivo. Tem 15 anos e continua fino com um alho, como costuma dizer a minha madrinha.

Eu sei que as circunstâncias nem sempre são o que parecem e o acaso ocorre sem que a racionalidade humana o entenda, mas, caros leitores, o que vos vou revelar é tão verdeiro como serem os lírios do campo as flores mais perfumadas que conheço. Tenho tido, ao longo destes anos da minha existência, muitos amigos que já fizeram a sua última caminhada para Deus e que me foram especiais, mas só alguns é que tiveram um merecimento especial. Um merecimento que me levou à necessidade partilhar com o leitor algumas ocorrências que não quero que fiquem na posse apenas de quem já partiu e de mim próprio, que ainda ficou mais algum tempo neste lugar de passagem.

Meu amigo Sr. Zé do “Talho”, obrigado pelas suas palavras, simplicidade, convivência e amizade. Até breve.

Carlos Afonso

domingo, 15 de julho de 2012

A noite de sexta, dia 13, foi especial



       

            O Club Fafense já nos habituou a momentos especiais, facto que nos leva a concluir que este espaço acolhedor, e de referência para Fafe, já ganhou o estatuto de um centro de cultura viva. Não admira por isso que a passada sexta-feira, dia 13, tivesse sido mais um desses momentos de sorte para todos os que se deslocaram ao Club. Na verdade, as circunstâncias colocaram-se em uníssono e os presentes tiveram a possibilidade de escutar uma bela história entrelaçada com música, poesia, palavras de circunstância, belas canções e uma simples rosa.

            Este evento cultural contou com a participação do Coro de Pais e Amigos da Academia de Música José Atalaya, magistralmente orientado pelo professor Tiago Ferreira, com o jovem pianista Simão Neto e a jovem Ana Catarina Sampaio na flauta transversal. Tanto o Coro como os jovens músicos portaram-se à altura e foram maravilhosos nas suas participações. De facto a cultura é bela e completa quando é feita com alma e amor!     

Foram várias as canções que se ouviram: Gentil Lavadeira; Não tragais borzeguis pretos; Ay! Linda amiga; Guantanamera e Siyahamba. Estes temas reportam-se a épocas e espaços diferentes, que vão desde a música mais tradicional portuguesa, passando pelas cantigas renascentistas, a canção tipicamente cubana e uma outra oriunda da África do Sul. Para além do canto, foram declamadas as respectivas letras e o professor Tiago explicou de uma forna elucidativa as respetivas abrangências destas composições.

E porque este momento poético/cultural estava intimamente associado a uma história da minha autoria, pois o enquadramento tinha um fio condutor próprio e mágico, aqui fica o respectivo texto.

«Era uma vez uma simples rosa que morava num pequeno canteiro sem graça. Ela nascera naquele lugar enfadonho, porque uma ave qualquer ali deixara cair uma semente por acaso. Depois de se tornar numa rosa sem graça, aroma e perfume, ali permanecia dias inteiros, sempre triste, só e longe do olhar alegre dos homens. Um dia, e já cansada de tanta indiferença, pediu à brisa suave da manhã que a ajudasse a ser uma rosa como as outras: uma rosa bela, perfumada e cheia de encanto.

Habituada a emprestar os seus sábios conselhos, a brisa da manhã sempre disse à sua interlocutora que para ela se transformar numa bela e perfumada rosa tinha de ser sujeita a uma dura e penosa prova. Ela tinha de ser colhida ao fim da tarde, pelas mãos de uma bela donzela, e ser levada para um grande salão onde pudesse escutar belas melodias e canções que falassem de amor, encontros e saudade. Só depois de percorrer toda este preceito é que as musas da poesia e da música a abençoariam e a tornariam bela, colorida e perfumada.

            Conformada com as palavras da brisa da manhã, e sem pensar duas vezes, a rosa deixou-se colher ao fim da tarde por uma bela donzela que por ali passara e que a trouxe com as suas próprias mãos para o maravilhoso Salão Nobre do Club Fafense, para que a música e as canções a enchessem de graça. E porque o seu destino estava traçado, a rosa escutou com todo o carinho a música e as canções que lhe eram dirigidas, facto que a levou a transformar-se, logo de seguida, numa bela rosa repleta de cor, perfume e encanto.»

A história já acabou, mas o que tenho para vos dizer é que a dita rosa esteve na sexta-feira, dia 23 de Julho, no evento cultural de que vos falei. E porque gosto de finais repletos de fantasia, eu tive o privilégio de testemunhar a transformação da rosa da nossa história. E tudo aconteceu porque o Coro de Pais e Amigos da Academia de Música José Atalaia e os jovens músicos Simão Neto e Ana Catarina foram excelentes na sua atuação. Parabéns para eles, pois a sua excelência salvou a simples rosa, que nascera, sem que a culpa fosse sua, sem cor, perfume e beleza.



                                                           Carlos Afonso

sábado, 14 de julho de 2012

Uma sexta-feira 13 especial





        O Club Fafense já nos habituou a momentos especiais, facto que nos leva a concluir que este espaço acolhedor, e de referência para Fafe, já ganhou o estatuto de um centro de cultura viva. Não admira por isso que a passada sexta-feira, dia 13, tivesse sido mais um desses momentos de sorte para todos os que se deslocaram ao Club. Na verdade, as circunstâncias colocaram-se em uníssono e os presentes tiveram a possibilidade de escutar uma bela história entrelaçada com música, poesia, palavras de circunstância, belas canções e uma simples rosa.

            Este evento cultural contou com a participação do Coro de Pais e Amigos da Academia de Música José Atalaya, magistralmente orientado pelo professor Tiago Ferreira, com o jovem pianista Simão Neto e a jovem Ana Catarina Sampaio, na flauta transversal. Tanto o Coro como os jovens músicos portaram-se à altura e foram maravilhosos nas suas participações. De facto a cultura é bela e completa quando é feita com alma e amor!     

Foram várias as canções que se ouviram: Gentil Lavadeira; Não tragais borzeguis pretos; Ay! Linda amiga; Guantanamera e Siyahamba. Estes temas reportam-se a épocas e espaços diferentes, que vão desde a música mais tradicional portuguesa, passando pelas cantigas renascentistas, a canção tipicamente cubana e uma outra oriunda da África do Sul. Para além do canto, foram declamadas as respectivas letras e o professor Tiago explicou de uma forna elucidativa as respetivas abrangências destas composições.

E porque este momento poético/cultural estava intimamente associado a uma história da minha autoria, pois o enquadramento tinha um fio condutor próprio e mágico, aqui fica o respectivo texto.

«Era uma vez uma simples rosa que morava num pequeno canteiro sem graça. Ela nascera naquele lugar enfadonho, porque uma ave qualquer ali deixara cair uma semente por acaso. Depois de se tornar numa rosa sem graça, aroma e perfume, ali permanecia dias inteiros, sempre triste, só e longe do olhar alegre dos homens. Um dia, e já cansada de tanta indiferença, pediu à brisa suave da manhã que a ajudasse a ser uma rosa como as outras: uma rosa bela, perfumada e cheia de encanto.

Habituada a emprestar os seus sábios conselhos, a brisa da manhã sempre disse à sua interlocutora que para ela se transformar numa bela e perfumada rosa tinha de ser sujeita a uma dura e penosa prova. Ela tinha de ser colhida ao fim da tarde, pelas mãos de uma bela donzela, e ser levada para um grande salão onde pudesse escutar belas melodias e canções que falassem de amor, encontros e saudade. Só depois de percorrer toda este preceito é que as musas da poesia e da música a abençoariam e a tornariam bela, colorida e perfumada.

            Conformada com as palavras da brisa da manhã, e sem pensar duas vezes, a rosa deixou-se colher ao fim da tarde por uma bela donzela que por ali passara e que a trouxe com as suas próprias mãos para o maravilhoso Salão Nobre do Club Fafense, para que a música e as canções a enchessem de graça. E porque o seu destino estava traçado, a rosa escutou com todo o carinho a música e as canções que lhe eram dirigidas, facto que a levou a transformar-se, logo de seguida, numa bela rosa repleta de cor, perfume e encanto.»

A história já acabou, mas o que tenho para vos dizer é que a dita rosa esteve na sexta-feira, dia 23 de Julho, no evento cultural de que vos falei. E porque gosto de finais repletos de fantasia, eu tive o privilégio de testemunhar a transformação da rosa da nossa história. E tudo aconteceu porque o Coro de Pais e Amigos da Academia de Música José Atalaia e os jovens músicos Simão Neto e Ana Catarina foram excelentes na sua atuação. Parabéns para eles, pois a sua excelência salvou a simples rosa, que nascera, sem que a culpa fosse sua, sem cor, perfume e beleza.



                                                                                              Carlos Afonso