sexta-feira, 25 de março de 2011

O homem que encontrou a flor mais bela do mundo

Há muito pouco tempo atrás, numa das mais belas terras do Minho, vivia um homem que passava a maior parte do seu tempo à procura de três coisas: uma certeza que lhe tirasse todas as dúvidas; um caminho que lhe mostrasse todos os pontos de chegada e uma flor que fosse a mais bela do mundo.
Por muito que procurasse, por muitos esforços que fizesse, um certo desânimo começava a adensar-se no seu peito e os seus olhos já não sabiam ao certo de que lado vinha a luz. Na verdade, era difícil encontrar todo o possível no meio do impossível. E muito mais complicado seria descortinar a perfeição no meio do acinzentado das hipocrisias. Se uma certeza se aproximava do seu entendimento, dezenas de dúvidas choviam em seu redor. Se um caminho lhe indicava um rumo, logo a seguir ficava sem saber de que lado estava o norte, e se o sul estaria nesta ou naquela direcção. O único objectivo que ainda lhe restava colher nas suas mãos, e para que tudo não fosse em vão, era encontrar a flor mais bela do mundo.
Os muitos jardins e quintais, hortas e prados, montes e vales que rodeavam a terra onde morava esse homem eram de muita beleza, tingidos de muitas cores e aromas, sempre enquadrados por um verde muito típico e o azul do céu. Mas, se uma rosa que vira num jardim qualquer lhe parecia a mais bela, mal olhava para o lírio perfumado que adornava um recanto mais além, já não sabia o que achar. Se uma ameixeira em flor lhe adoçava a alma, um cravo rubro que despontava numa sacada arejada baralhava-lhe o acreditar. E por aí fora.
E agora?
Será que esse homem teria de desistir do seu sonho e da sua procura, que começava a parecer inglória?
Estávamos num mês um pouco diferente dos outros meses e num dia em que o sol fez questão de se mostrar mais brilhante. O homem, e tal como fazia muitas vezes, cumpriu algumas obrigações profissionais na escola onde trabalhava, calcorreou algumas ruas e praças da cidade onde morava, subiu a um jardim com nome (do Calvário), olhou o casario disposto lá em baixo e deixou-se levar por um ténue instante.
Não se sabe se o pardal que lhe passou ao de leve pelo olhar lhe disse algum pormenor ou se a criança que o fixou, bem lá do fundo da rua, o inspirou, o certo é que o tal homem, que por sinal era professor, sentou-se num dos bancos que por ali se dispunha, tirou um caderno da pasta, escreveu qualquer coisa, manteve o caderno aberto, olhou o céu e, depois, sorriu.
Será que encontrou o que procurava? Será que a flor que ansiava há tanto tempo lhe apareceu nos seus desígnios?
Como que quisesse que todas as pessoas que habitam o seu amor de cidade partilhassem aquele momento de deleite, levantou-se, deu alguns passos firmes em direcção ao portão que serve de entrada ao centenário jardim, abriu o caderno e mostrou a razão do seu contentamento.
Bem no centro estava um tosco desenho, mas muito claro na mensagem que queria transmitir.
Era, sem sombra de dúvida, a flor mais bela do mundo, (pelo menos para ele).
As pétalas representavam todas as escolas do concelho onde o homem morava. O caule, e tal qual o elo de ligação entre toda a componente da flor, simbolizava o município que rege os desígnios daquelas paragens. As raízes, e porque não podia deixar de ser, mostravam, claramente, a escola onde ele trabalhava.
Por baixo desta flor tão especial estava escrito com letras bem destacadas: 2ªs Jornadas Literárias de Fafe.
Será que algum dia este singelo desenho, a precisar de alguns acertos, irá florir a sério e enfeitar alguma realidade a precisar de decoro?
Eu penso que sim. Basta apenas que a alma dos homens entenda que é na educação e na cultura, e na força que as sustenta e move, que está o encanto das madrugadas e o caminho do futuro.
Carlos Afonso

1 comentário:

  1. Participei nas Jornadas Literarias como correspondente de Fornelos no Jornal Povo de Fafe.O que me deu muita alegria.
    Parabens!

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