quarta-feira, 11 de setembro de 2013

terça-feira, 10 de setembro de 2013

O POVO E A FÉ



Em Parada, Alfândega da Fé, a terra onde nasci, aconteceu algo de extraordinário e único. Pela primeira vez, em mais de 200 anos, não se realizou a tradicional festa de Santo Antão da Barca, na Ermida de Santo Antão, porque, neste momento, está a ser transladada para um outro lugar por causa da barragem do Baixo Sabor. Assim sendo, o festa anual decorreu na aldeia de Parada, porque a fé em santo Antão, Nossa Senhora dos Remédios e o Divino Senhor da Barca é sentida por todo um povo que habita aquelas paragens. Foi uma festa linda, diferente e muito emotiva.
Eu estive presente e vivi o momento com intensidade.
E porque o rio Sabor, rio que para mim é o rio mais belo, vai ser desconfigurado por causa da barragem, deixo aqui um simples poema de amor a tão grandioso rio.

Ó Rio da Minha Memória

Nasceste nos Montes de León
E seguiste o sonho de ser um rio,
Igual a esses heróis sem medo, 
Desenhados pelas garras afiadas dum destino,
Que no Verão te empresta as sedes das ribeiras,
E no Inverno as enxurradas e o frio.

Ó rio da minha memória, 
Como as minhas mãos tremem,
Quando o rosmaninho florido das ladeiras
Lhes conta que te querem roubar as margens,
E esconder-te em estranhos recantos
Que não fazem parte da tua história! 

Eu sei que eles são mais fortes do que o vento desvairado
E que os seus interesses não cabem 
Debaixo desse fraguedo com importância, 
Que sempre te olhou amplo de inveja.
Mas… não chores!
Mostra-lhes que os rios não morrem
E que és o dono da minha alada infância!

Para mim, serás sempre o rio da minha aldeia,
O passado que não quero olvidar,
O caminho que conduz o tropeçar gasto dos meus passos,
E a vida que continua a florescer 
À tona molhada do teu eterno desaguar.

Meu Sabor, digam o que disserem e façam o que fizerem,
Serás, sempre: livre e leve como as aves a quem deste de beber;
Agreste e doce como os montes que embalaste;
Esbelto e luzidio como os peixes que em ti cresceram,
Verdadeiro e franco como os luares que no teu leito se deitaram
E em ti, num martírio meigo, se afogaram,
Quando as noites mais escuras não os quiseram Acordar.

Carlos Afonso.