domingo, 12 de maio de 2013

Pedaços das Jornadas Literárias de Fafe: O ALBATROZ AZUL




Depois de três semanas intensamente vividas em redor das 4ªs Jornadas Literárias, assentes em mais de 150 iniciativas culturais, previamente definidas e realizadas por todo o concelho (escolas, salas de aula, polivalentes, Instituto Superior, livrarias, bibliotecas, museus, multiusos, Teatro-Cinema, Sala Manoel de Oliveira, jardins, praças e casas apalaçadas de Fafe, salões paroquiais, Juntas de Freguesia e no meio da natureza magnífica deste pedaço do Minho), foi visível sentir múltiplas formas de cultura condignamente apresentadas.

            O que aconteceu, mais uma vez, nas Jornadas Literárias de 2013 foi extraordinário. Foram milhares os que trabalharam com vontade e querer nos inúmeros eventos, contribuindo, assim, para a imensa produtividade que daí derivou. O passado, o presente e o futuro mostraram, ao longo destas semanas, a receita acertada que pode ajudar a engrandecer um povo. A partir das nossas crianças de tenra idade até a pessoas de muita idade, mas todos agarradas a definições certas e puras de literatura, cultura, tradição e etnografia, sem terem de apegar-se a frases feitas, foi evidente notar que a grandeza de um rio não está apenas na sua foz. Ela também se vislumbra nos afluentes, margens que o definem e nas suas nascentes.

            Ao longo de toda a dimensão das Jornadas Literárias, uma das suas maiores riquezas foi a capacidade de pegar nas histórias que têm definido os destinos de Fafe e construir, a partir daí, outras histórias. Os livros escritos ou apenas sentidos foram, assim, a literatura das Jornadas. Os poetas e prosadores de Fafe, as lendas, o sotaque e os contos que salpicam a memória do nosso povo, a vontade de voltar a escrever o que já havia sido encontrado fizeram com que caravelas atracassem em Fafe, o comboio regressasse, os emigrantes retornassem da sua viagem, as palavras construíssem enredos completos, os campos mostrassem o seu tipicismo, a música e a dança tropeçassem em poesia, os sonhos de terra e de mar brotassem do interior de muitos livros, fazendo com que o passado se sentisse na obrigação de perspetivar o futuro. E o mais intenso é o que estaria para vir, pois muita literatura  poderá ser edificada a partir do que aconteceu. E porque o que acabei de dizer é verdade, amigos leitores, escutem, agora, um quase crónica, inspirada numa realidade das Jornadas Literárias de Fafe.

            Numa das minhas aulas de Literatura Portuguesa, numa quarta-feira de março, pedi a atenção aos meus alunos para João Ubaldo Ribeiro, um dos maiores escritores de Língua Portuguesa, descendente de fafenses, a viver no Brasil, e que em 2013 seria o patrono literário das Jornadas. Falei da sua obra, lemos e analisámos alguns excertos do seu romance “O Albatroz Azul” e, porque o Dia Mundial do Livro era uma data para assinalar, lancei o desafio para que em casa partilhassem a obra deste grande homem das letras com as respetivas famílias. No meu entender, seria uma forma interessante de levar Ubaldo Ribeiro ao encontro de outros fafenses. A ideia foi entendida e esta iniciativa das Jornadas ganhou forma e efeito. O mais interessante foi o que aconteceu a partir daí.

Luísa, um nome fictício, depois de ter escutado atentamente as minhas palavras, centradas na novidade de os alunos partilharem literatura com os seus familiares, ao chegar a casa, acomodou a pasta numa cadeira, disposta num dos cantos da sala e correu, sem fazer barulho, para o quarto do seu avô. De setenta e três anos, o avô de Luísa estava acamado há mais de cinco anos e sofria de uma doença incurável. Os médicos já há muito que lhe tinham definido a sua sina. No entanto, a sua vontade havia-o segurado à existência e aos afetos da sua neta.

            - Avô, Avô, tenho aqui um presente para ti. Estás a ouvir-me?

            Claro que o avô a estava a ouvir. Nem sempre os olhos cerrados são sinónimo de ausência.

            -Diz, minha pequena. O que me trazes? Mas antes quero um dos teus beijos.

            - Está bem, avô, - despachada, pousou-lhe no rosto um beijo doce e nas mãos “O Albatroz Azul” de Ubaldo Ribeiro.

            - Olha, avô, comprei este livro e gostaria de te ler alguns excertos, pois sei que gostas muito de ouvir histórias!

            Claro que o avô adorou a ideia, pois, e mesmo incomodado com as dores habituais e incómodos da doença, o fascínio dos livros falou mais alto. Recompôs-se na sua postura e preparou-se para tão solene momento.

            -Posso, avô? Posso? «Sentado na quina da rampa do largo da quitanda, as mãos espalmadas nos joelhos (…).»

            Pelo que me contou, ainda com as lágrimas nos olhos, a minha aluna, ela demorou mais de três dias a ler o livro ao seu avô, e nem a mãe a conseguira impedir com os seus mais que justificados argumentos.

            E porque os leitores desta quase crónica só vão ler mais tarde o romance de Ubaldo Ribeiro, dando, assim, continuidade à dimensão literária das Jornadas, quero dizer-vos que o livro de tão insigne escritor conta uma história interessante, onde a morte e a vida se cruzam. O livro fala de um homem muito velho que, e apesar de possuir muita sabedoria trazida por todos os seus anos de existência, ainda procurava apreender sentidos para a vida. Sabendo que a sua morte estava próxima, uma certa inquietação perturbava-lhe a existência. A dada altura surgiu na sua frente um albatroz azul, um pássaro que não existe, mas que, e tal qual um anjo, o abordou e o conduziu para o paraíso.

            Para finalizar esta minha quase crónica, apenas vos digo que o avô da minha aluna Luísa, um nome fictício, morreu pouco tempo depois de se ter deliciado, no seu sofrimento, com o carinho da neta e o enredo sentido que João Ubaldo Ribeiro lhe ofereceu. Provavelmente, o Albatroz Azul que levara no seu voo o velho homem, o protagonista da narrativa, para o céu, foi o mesmo que abriu as portas do paraíso ao avô da minha aluna.

Digo-vos, também, e porque a minha aluna também gosta de escrever histórias,  que ela fez o favor de me entregar em mãos uma linda e emotiva narrativa, e que em breve publicarei, intitulada “O sorriso azul do meu avô”.  Que título curioso!

(Esta foi apenas a primeira história real, das muitas que tenho necessidade de partilhar com os amigos leitores, inspirada nas 4ªs Jornadas Literárias de Fafe.)

Carlos Afonso

terça-feira, 30 de abril de 2013

PARA ONDE CAMINHAM AS JORNADAS LITERÁRIAS DE FAFE?




Depois de mais uma edição das Jornadas Literárias de Fafe, que resultaram num estrondoso sucesso, muitas são as palavras que se podem dizer e muitos são os argumentos que se podem acrescentar. No entanto, e apesar de tudo o que aconteceu, é preciso refletir no que não correu bem, tomar atenção a pormenores importantes e vislumbrar o muito que é preciso concretizar para que, aos poucos, se edifique em Fafe uma fundamentada e lúcida construção cultural.

Quando estamos num projeto sensato e compreendido por um concelho inteiro, e que mexe com a alma e a existência de milhares de pessoas, não é fácil olhar todos os lados que o definem. Milhares e milhares de pessoas a lutar e a acreditar por uma iniciativa que lhes diz muito é, sem sombra de dúvida, uma mais-valia, mas também pode ser um problema sério. No meu caso concreto, e com certeza acontece o mesmo com muitos outros amigos que trabalharam comigo para o sucesso destas 4ªs Jornadas literárias, as canseiras foram muitas e as lágrimas também não se fizeram rogadas! Os meses de preparação, as milhares de horas e noites em claro para projetar, percorrer espaços, falar com pessoas, ouvir, resolver mal entendidos, convencer descrentes e explicar e voltar a explicar não são possíveis de contabilizar. O que valeu é que muito amadorismo, vontade e amor a Fafe fizeram com que gente de bem não olhasse a meios para conseguir concretizar as Jornadas. Como Coordenador ficarei eternamente grato a todos os que abraçaram tão importante projeto: Município, Freguesias, Instituições, Escolas, Associações e pessoas em particular.

O projeto das Jornadas Literárias, e para aqueles que não imaginam a sua grandeza, reescreve-se em centenas de iniciativas variadas e assentes em diversas formas culturais, e que nunca pararão de crescer, porque as gentes de Fafe assim o determinam. Desta forma, e tendo em conta a dimensão a que se chegou, as Jornadas não podem ser coordenadas e trabalhadas em horas fora de expediente. Se das 7 às 20 horas se é professor, das 21 horas às 3 horas da madrugada não há tempo suficiente para se ir mais longe. E, mais a mais, há outros afazeres que também moram na nossa existência e que não se podem omitir dos nossos dias. Assim sendo, outros horizontes têm de ser escritos.

Eu sei que quando se corre por gosto também cansa, mas algo tem de ser feito para que o rio continue a crescer e se transforme num oceano de cultura. Nunca podemos esquecer as palavras que uma linda mulher dos seus 70 anos me disse, domingo à tarde, e que agora partilho com os leitores:

- «Sr. Professor, pró ano é que vai ser. A minha prima já cá tem umas ideias que nem lhe conto…»

Como eu fiquei contente quando ouvi aquelas palavras carregadas de certezas!

Como eu fiquei triste por não saber se poderei ajudar a concretizar as ideias da prima daquela linda mulher dos seus 70 anos!…

 Os meus sonhos são muitos. O meu querer é imenso. A minha vontade de continuar a trabalhar por Fafe não tem limites. Mas… o meu tempo é pouco, os meus afazeres são incontáveis, as minhas noites de insónia não podem continuar a ser o que têm sido e as minhas forças estão no seu limite.

Como bom crente que sou, acredito nos bons desígnios de Deus e na boa vontade daqueles homens que têm poderes para mudar as coisas.

Quanto ao resto, os fios que são necessários para continuar a tecer a toalha de linho cultural com que as terras de Fafe se podem cobrir, recolham-nos na franqueza do povo, na esperança das nossas crianças, na garra das nossas associações e no querer que brota das nossas nascentes.

            (Um sincero obrigado a todos os que me ajudaram a construir as 4ªs Jornadas Literárias de Fafe. O meu peito jamais vos esquecerá…)


Carlos Afonso



quinta-feira, 25 de abril de 2013

O FUTURO DE FAFE TAMBÉM PASSA POR «FAFE DOS BRASILEIROS»



 

 
           Vários são os motivos que me levam a agradecer a Deus a razão do meu continuar no mundo dos vivos. Um desses motivos foi o de me ter permitido continuar a usufruir da minha existência em pleno, depois de, há alguns anos atrás, ter sido vítima por um inconveniente AVC. Na verdade, a minha vida mudou para melhor e passei a olhar, com mais clareza, outros horizontes.

            Às vezes, são as pedras que se nos deparam pela frente que nos levam a escolher outros caminhos. E ainda bem que assim é!

            Foi a partir desta oportunidade que me foi dada que as Jornadas Literárias de Fafe brotaram, construção cultural nascida em 2009, e que, dois anos mais tarde, conduzirá a uma outra grande aposta digna de registo e efeito.

            Se a ideia das Jornadas me foi oferecida numa sala de aula, na Escola Secundária, a ideia de fomentar a iniciativa «Fafe dos Brasileiros» veio à luz do dia, quando numa bela tarde, descendo a escadaria da Casa da Cultura, com o livro de Miguel Monteiro, com um título bem do tamanho de dois continentes e um oceano, debaixo do braço, me foi segredado ao ouvido para continuar o que tinha sido começado. Dali, fui tomar um café à Brasileira, onde, com ajuda de um papel em branco e uma caneta quase gasta, escrevinhei a intenção de colocar no programa das Jornadas Literárias uma nova visão. E foi desta forma que o passado começou a movimentar-se num presente com futuro. Uma minha participação na Rota da Desfolhada, em Várzea Cova, ajudou a definir o que faltava.

            Nos finais do Séc. XIX e princípios do Séc. XX, muitos fafenses fomentaram a demanda entre dois povos, Portugal e o Brasil, numa torna viagem com muitos sucessos. No Séc. XX, 1991, Miguel Monteiro, um homem visionário e com muito querer, colocou em livro histórias e rumos, dando-lhe o único título possível: «Fafe dos Brasileiros». Já no Séc. XXI, e porque tinha de ser assim, tive a sorte de poder dar início a uma outra perspetiva que poderá ir muito longe e imortalizar quem de direito e por necessidade. Comecei, assim, a partir de alicerces bem assentes em factos da história e na lucidez e mestria de Miguel Monteiro, a definir uma outra vertente de Fafe dos Brasileiros.

            Com a ajuda das escolas, freguesias e associações de todo o Concelho e Município, mais um grupo de amigos, tão enlevados pela cultura como eu, a onde branca assomou na praia e foi de ilha em continente e poderá, se os fafenses assim o quiserem, ir até ao fim do mundo. Foi o acreditar numa visão necessária por parte de todo um conjunto de pessoas com alma e crença que conduziu a que novas peças se interligassem ao projeto cultural que se estava a fomentar em Fafe, e que nunca mais tem parado de crescer.

E foi assim que «Fafe dos Brasileiros» se apegou às Jornadas Literárias.

            No ano de 2012, as Jornadas Literárias brilharam no campo cultural de Fafe, atingindo um patamar muito alto. E bem dentro de toda a sua abrangência e transversalidade, «Fafe dos Brasileiros» mostrou os seus princípios, e que foram muito bem entendidos e ovacionados.

O Rei Dom Carlos voltou a Fafe e com ele trouxe uma imensidade de Brasileiros Torna-Viagem. O sucesso do evento ultrapassou todas as expetativas e o que era uma simples confidência, segredada aos meus ouvidos na escadaria da Casa da Cultura, tornou-se numa clareza com forma e feitio.

            Neste ano de 2013, as Jornadas já se iniciaram, em grande, no dia 19 de abril, com muita gente, engenho, pompa e circunstância. O sucesso de todas as iniciativas que se têm vindo a desenvolver ao longo dos dias tem granjeado os aplausos de todo um povo que não se cansa de ver que tem valido a pena trabalhar em prol da cultura fafense. Na verdade, não há palavras para definir o afinco e a disponibilidade de todos os que têm dado o melhor de si para o êxito evidente das Jornadas Literárias de Fafe.

            A partir do dia 26 abril, sexta-feira, a partir das 18h, e ao longo do fim de semana (27 e 28) muitas vão ser os eventos que engrandecerão «Fafe dos Brasileiros»: recriações históricas, mostras etnográficas, Baile de Época, Jogos tradicionais, feiras de época, folclore, festa, muita música, grandes espetáculos, boa gastronomia, alegria, desfiles e muito…muito mais.

            Perante tamanha convicção e desejo de ir muito longe, «Fafe dos Brasileiros» será um excelente meio de promover a cultura. Será um ótimo recurso de difundir as terras de Fafe. Trará muita gente e riqueza a Fafe.
              Podemos então dizer que a cultura surgirá, e de acordo com os desejos de todo um povo, entrelaçada com o turismo e a economia. 
          Para concluir, podemos dizer, com a maior certeza que nos mora na existência, que: «O FUTURO DE FAFE TAMBÉM PASSA POR «FAFE DOS BRASILEIROS».

                                                                                                                      Carlos Afonso

sexta-feira, 5 de abril de 2013

AS VERDADEIRAS CORES DAS JORNADAS LITERÁRIAS DE FAFE


 

 

            Desde há uns anos para cá que em Fafe está a ser construído um projeto cultural, sempre em crescendo, com objetivos claros e dignos, cuja seiva que o vai alimentando advém do suor, sonhos, alma, tempo e coração de muitos fafenses.

            Ainda me lembro a hora e o local como tudo começou. Estávamos em outubro de 2009, numa aula de Literatura Portuguesa, altura em que questionei os meus alunos acerca do que iriamos fazer no Projeto Individual de Leitura, componente obrigatória da disciplina. Numa resposta visionária, uma aluna adiantou-me que podíamos estudar os escritores de Fafe e “(…) fazer algo como umas Jornadas Literárias, professor(…)”. Bendita a hora em que a minha aluna disse o que lhe nascera no entendimento, pois, e a partir daí, a nascente do rio começou a jorrar e nunca mais deixou de correr. Assim, e logo em março de 2010, a Escola Secundária de Fafe, o ventre materno das Jornadas, interligou-se com a Câmara Municipal e, em parceria, começaram a erguer tão importante construção: as Jornadas Literárias de Fafe.

            Se no início o rosto do evento, ainda a dar os primeiros passos, era apenas literário e muito ligado aos escritores fafenses, com os anos, outras metas se foram abrindo e outras vertentes culturais vieram à luz do dia. E tudo foi acontecendo e crescendo, porque mais agentes se associaram ao projeto, concretamente, Escolas, Município, Freguesias, Associações e Instituições. Isto é, todo o Concelho de Fafe, imbuído de um só peito e amor a Fafe, ergueram a sua vontade e têm trabalhado em prol das Jornadas Literárias.

            Quando olhamos para a bandeira que define as Jornadas Literárias podemos ler e sentir mensagens lindas, sugerindo toda uma unidade que nasce na diversidade das gentes que habitam as terras de Fafe. As suas reais cores, em forma de telhas, idênticas às que cobrem o casario de traça brasileira que enfeita as nossas ruas, mostram que a verdadeira cultura abarca o fio que ata a existência de todos os fafenses. Não debotem as cores com a perversidade dos pecados dos homens. As Jornadas Literárias abraçam e misturam todas as cores políticas, clubísticas, associativas, administrativas, bairristas, etc… derivando daí uma substância incolor e pura: AMOR A FAFE…

            Como Coordenador das Jornadas Literárias de Fafe, sinto correr nas suas veias um pouco do meu sangue que, conjuntamente com o sangue de toda uma multidão, dá vida a tão promissor e necessária construção cultural. As Jornadas são de todos nós e pronto… Por favor, não utilizem as Jornadas para fins para os quais não foram criadas. Não as utilizem como arma de arremesso, pois ao fazê-lo estão a destruir a sua essência e rosto. Não matem esta flor perfumada, que tanto acreditar e esperança tem oferecido aos fafenses de boa vontade…

            Eu sei, e seria muito ingénuo ou demasiado atrevido e até louco varrido se pensasse o contrário, que a cultura fafense se esgota nas Jornadas Literárias. Nem pensar. As Jornadas são apenas uma visão diferente que bebeu no muito que tem sido feito e continuará a ser feito por estas paragens. As Jornadas são como aquela avezinha que gosta de bebericar aqui e ali e depois construir o seu ninho com o que de bom existe em seu redor. As Jornadas são como uma árvore florida, que só consegue o seu encanto, porque o terreno em que cresceu é bom e nutrido e as estações do ano lhe foram e são favoráveis.  

            As Jornadas não são minhas nem são tuas, elas são de quem as agarrar e amar… As Jornadas são o que nós quisermos que elas sejam…

            As Jornadas não são o princípio de nada, mas são o tudo que nós quisermos ansiar! Elas cheiram a povo, paisagem, tradição, literatura, broa, sonhos, estrelas, caminhos, arte, trabalho, música, memória e muito mais…

            Neste ano de 2013, as 4ªs Jornadas Literárias de Fafe serão do tamanho do universo que desenha o nosso querer. Unamo-nos em seu torno e trabalhemos pela sua causa. Da minha parte, só lamento não ter mais tempo e forças para lhe dedicar…

            Para terminar, e antes que esgote todas as páginas que seria necessário escrever para gravar o que sinto, peço-vos um grito a uma só voz e coração «DE FAFE, COM FAFE, PARA TODOS…»

 

Carlos Afonso

sexta-feira, 29 de março de 2013

O ÚLTIMO OLHAR DE JESUS...



 

  

Quase desde o início do mês março que a cidade se cobria com umas enfadonhas e molhadas tardes, indefinindo rostos, apagando flores primaveris, abafando almas, escondendo caminhos e alumiando muitas ausências. Maria era uma das muitas pessoas que habitavam por ali, sem que ninguém lhe tenha dito para ir para outro lado. Para quê? O destino não o permitiria. A não ser que um olhar maior lho consentisse

Maria já não sabia o que fazer. Meia adoentada por uma indisposição qualquer que não sabia definir, os dias pareciam-lhe demasiado tristes e sem sentido! O seu corpo de mulher de vinte e três anos continuava em desacordo com os conceitos gerais de beleza e nenhum olhar de rapaz mais afouto o procurava para lhe descobrir algum sabor. A mãe de setenta e tantos anos continuava acamada e repleta de sofrimento, pois não havia dinheiro para um tratamento a sério. O único irmão, mais velho do que ela, pelo que ouvira dizer desde o dia em que aprendera a ver o mundo, fora levado por um tio para as américas. Quanto ao seu emprego, tudo na mesma. O patrão fechara a fábrica sem dizer nada, há mais duas semanas, sem o mínimo espírito de arrependimento, e sem pagar os ordenados desde janeiro. Pelo que alguém disse, foi-se embora de Portugal no seu jato particular. Pudera, para quem tem mais de um dúzia de empresas na América latina, fechar uma simples fábrica no Minho, não causa qualquer tipo de remorsos.

Desempregada, penso que o nome correto é mesmo este, apesar de segunda a sexta, sem que uma semana passe em claro, tanto ela como as suas colegas de ofício, passem algumas horas no seu ainda local de trabalho, mesmo de portas fechadas e com as máquinas paradas. Algum dinheiro que possa vir a mando dos tribunais viria mesmo a calhar.

Faltavam apenas poucos dias para a Páscoa e era preciso manter a tradição. Uma mesa mais enfeitada com todas as iguarias da época seria o ideal. O problema é que na carteira não havia a quantia necessária para gastos maiores, quanto mais comprar um pão-de-ló e, mais a mais, já há muito que a ridícula reforma da mãe tinha ficado resgatada na farmácia e noutros sítios onde se pagam dívidas.

 E porque a mãe tinha o direito a um dia especial como todos os outros, tinha de fazer alguma coisa. Depois de a cuidar com todo o carinho que lhe é reconhecido, deu-lhe um imenso beijo no rosto, e despediu-se, dizendo que vinha já. Como a mãe já almoçara, Maria pensou que ela não precisaria de o fazer, pois, dessa forma, o jantar já estaria feito. Uma simples maçã e um copo de leite resolveriam o seu problema e nem à mesa se sentou. Deixando a mãe sossegada e com alguma paz, foi para o seu quarto, mas como constatasse que o frasco de perfume já estava vazio, arranjou-se como pode e, dali a pouco tempo, saiu. Era Sexta-feira Santa e a chuva continuava a cair, dando a este dia nomeado as cores exatas com que o mundo cristão o tinge.

Por volta das três horas da tarde, o exato momento em que Maria passava em frente à Igreja de São José, bem no centro da cidade de Fafe, um mau estar sem precedentes fê-la cair sem estrondo no lajedo do passeio. Angustiada e sem forças para se erguer, sentiu a quentura do sangue a afagar-lhe o rosto e uma ou outra voz que a interpelavam. Sem ânimo, fechou os olhos e desistiu. Dentro de si, brotou a leve lembrança de que Jesus Cristo também morrera numa sexta igual àquela e, dessa forma, Maria também aceitou a morte. Quem era ela para escolher outra hora? Não era qualquer um que acabava os seus dias numa data assim.

 A dada altura, e depois de uma imensa negritude jamais vivida, a alma trouxe à sua presença o rosto de um homem rodeado de paz, com um olhar mais brilhante do que o sol, que, em breves palavras, lhe apontou o seu verdadeiro caminho:

- Maria, levanta-te e anda, a tua família e amigos esperam-te…

Sem jeito e surpresa na sua forma de estar, sempre conseguiu dizer:

- Senhor, que olhar tão belo… Eu conheço-vos… Vós… vós… sois Jesus.

E porque assim estava escrito, Maria voltou à vida e, para sua felicidade, em redor da cama do hospital, para onde fora levada depois de ter caído na rua, estava a sua mãe, seu irmão com uns olhos azuis que encantavam e algumas das suas companheiras de trabalho.

 Como tudo aconteceu para que este quadro, impensável ainda há pouco, pudesse acontecer, também eu, narrador, não sei responder. Ou sei?

Lá fora, o sol voltara e um perfume especial inundava os lugares e momentos.

 

Carlos Afonso

domingo, 17 de março de 2013

OBRIGADO, FAFE!



 

Na Gala do Notícias de Fafe, realizada na noite de sábado de 16 de março, numa festa lindíssima, organizada para comemorar o primeiro aniversário deste tão distinto jornal, no Teatro-Cinema, e a quem desejo as melhores felicidades, tive a honra de ser galardoado com o prémio “Ardina de Ouro”, na componente Cultura/Letras.

Num sentimento de profunda amizade, deixo aqui o meu OBRIGADO a todos os leitores do Notícias de Fafe que tiveram a simpatia de votar em mim, e um forte abraço a todos os que estavam nomeados, nas várias vertentes, vencedores ou não, pois todos eles mereciam ser premiados, uma vez que, e sem sombra de dúvida, têm assumido, ao longo dos anos, um papel de relevante na vida de todos os fafenses.

Uma vez que o “Ardina de Ouro” me foi atribuído principalmente pela minha ação nas «III Jornadas Literárias de Fafe», queria deixar bem claro que este digníssimo galardão tem mais destinatários. Eu apenas sou uma pequena gota neste enorme oceano de cultura. Ele é, também, e com todo o mérito, para os milhares de fafenses que têm trabalhado comigo nesta grande iniciativa.

Assim, numa atitude de humildade e profunda gratidão, entrego este merecido prémio nas mãos dos justos vencedores que habitam o mui formoso Concelho de Fafe: Colegas de organização das Jornadas, Escolas, Juntas de Freguesia, Associações, Instituições e Camara Municipal.

Uma vez que estamos apenas a um mês das próximas Jornadas, as «IV Jornadas Literárias de Fafe», que decorrerão de 19 a 18 de abril, deixo um sentido convite a todos os fafenses, e não só, para que se juntem a nós e nos ajudem a levar cabo esta hercúlea tarefa que tem como reais objetivos promover e preservar a cultura de um povo que habita estas terras pintadas de um genuíno verde granítico: memórias, tradições, usos, crenças, arquitetura, literatura, folclore, artes, gastronomia, música, rostos e sonhos…

OBRIGADO

                                                                      Carlos Afonso

Foto: Jesus Martinho
 

terça-feira, 12 de março de 2013

AS ALEGRIAS DE UM PROFESSOR





       Por muito que os dias nos mostrem cores de que não gostamos, há sempre um ou outro momento que nos fazem sorrir e olhar o horizonte com esperança. E porque o que acabei de dizer é verdade, deixo aqui uma pequena confidência, imagem exata do que me aconteceu, hoje, dia 12 de março de 2013,pela manhã, na Escola EB2,3 de Arões.
       Convidado a participar da Semana da Leitura no estabelecimento de ensino acima referido, e durante uma iniciatica cultural, onde falei da minha faceta de modesto escritor, iniciativa que decorreu muito bem, e que também contou com a presença do jovem Rui Miranda, autor das ilustrações de um dos meus livros,uma aluna, a Fernandina Costa do 5ºC, ofereceu-me um singelo ramo de flores e um lindo poema da sua autoria.
       Feliz com tamanha gentileza e coberto por uma emoção que me cobriu a existência, senti necessidade de fazer o que o coração me mandou: deixar neste meu espaço um agradecimento forte aos que tão bem me receberam e o poema que a minha jovem amiga de ofereceu.


POEMA

 

Escreve livros
 
Poesias

É ótimo escritor

Nos seus dias.

 

Nas crianças

Não hesita em pensar

Ele vai escrevendo

Para as crianças agradar.

 

Escrever

Faz-lhe melhor sentir

Apesar da natureza

Também o seduzir.

 

Ele adora Português

E aulas está a dar

Adora os alunos

Que o fazem sonhar.

 

É adorado por muitos

Nada o vais parar

É feliz como é

Vamos lutar

Para que continue a sonhar…

 

Fernandina Costa 5ºC

Escola EB2,3 de Arões

2012/2013