segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

«Palavras, Frases e Expressões do Minho Profundo», uma obra de todos os tempos




            No passado dia 31 de janeiro, tive a honra de apresentar mais uma obra do meu grande amigo, professor José Augusto Gonçalves, e desta vez, em colaboração do meu colega, o professor Amâncio Novais. Ambos nos debruçamos no assunto/tema, dimensão linguística e visão pedagógica do livro Palavras, Frases e Expressões do Minho Profundo. Sem sombra de dúvida que esta tarefa foi deveras fascinante, tendo em conta a grandeza e a vernaculidade do trabalho em causa.
É importante evidenciar o fervilhar cultural que em Fafe se vive, nestes últimos meses, concretamente no que toca ao assomar, à luz do dia, de certas obras centradas no património regional. Na verdade, e numa altura em que Portugal “Anda c`o a mosca”* e “Andémos p`rá `qui desmangados”,* eis que surgem nos nossos horizontes certas publicações, tal qual pedras vivas e bem rijas da nossa existência, pertença do nosso povo, pregadas às folhas inocentes de vários livros, nestas nossas formosas terras de Fafe. E, como exemplo, podemos salientar as seguintes: «Santa Maria de Aboim, o olhar sincero do Minho», coordenado por mim em coautoria com historiadores e prosadores de Fafe; «Fafe, meu amor» de Artur Coimbra; «Fafe, História, Memória e Património» de Daniel Bastos, Paulo Teixeira e José Pedro, assim como o trabalho do professor João Ferreira, centrado nos dialetos de Fafe, entre outros.
 «Quando o passado não ilumina o futuro, o presente vive nas trevas» - (Alexis de Tocqueville).

- Por que razão, o autor escreveu este livro?

*“Vivências do passado: que nostalgia!
 Costumes do passado: que ousadia!
Linguagem do passado: que categoria!”

            A obra Palavras, “Frases e Expressões do Minho Profundo”, que temos nas mãos, é muito mais do que um aglomerado de páginas pintadas, ele é um dicionário de vidas, contadas oralmente. Um livro escrito com alma, saudades, experiências, histórias, louvor, respeito, amor e CARINHO por todo um povo que habita um pedaço deste Minho profundo e que representa o que de mais puro e belo se encontra no homem, especialmente na sua faceta que o faz chorar, rir, dormir, falar e sentir.
            Sem sombra de dúvida que toda a essência que deriva deste livro escorre direitinha para a certeza de que estamos perante um verdadeiro tesouro do nosso Património Cultural, e que temos a obrigação de preservar.
            E como refere o professor Abílio Peixoto, no seu artigo do Diário do Minho, «José Augusto, apresenta-nos um autêntico “tratado” de fonética (…) de incalculável  valor etnográfico e linguístico”.
            Este Manual de Vida mostra claramente o linguajar de um povo retirado do dia-a-dia dos falantes que habitam no meio dos montes, o Minho recôndito e profundo.
 Na literatura de todos os tempos, a simbologia dos Montes pode remeter-nos para esconderijo, lugar mais inacessível e elevado. Os montes podem oprimir, pela sua faceta de impedir de caminhar. O desenvolvimento pode chegar mais tarde ou não conseguir transpor as ladeiras acentuadas. A ruralidade pode apertar mais os rostos. Mas, e é isso que nos interessa agora, os Montes do nosso Minho escondido salvaguardaram toda uma linguagem oral que já se falava no início da nossa nacionalidade, e que continua com os mesmíssimos sons e sentidos. A vernaculidade do linguajar do nosso povo é deveras fascinante. Até parece que os séculos não passaram.
Igualmente a Lei do menor esforço continua a existir como acontecia há centenas de anos, permitindo que o falar se torne mais rápido e fluído. Esta técnica assentava no suprimir letras/sílabas, ou no interligar de palavras. O nosso povo continua a seguir estes ensinamentos
Podemos dizer que os séculos passaram, mas o linguajar das gentes do Minho profundo continua na sua pureza inicial.
Meus amigos, estamos perante um fenómeno vivo que o tempo não foi capaz de alterar. Os MONTES protegeram as nossas origens, e o professor José Augusto mostrou, com veemência, esta certeza, ao gravar na sua obra todo o linguajar do povo do Minho profundo.
Uma das maiores grandezas deste Dicionário de vidas feito, escrito com sons e coração, é ter a capacidade e ousadia de nos contar histórias que nos fazem rir e chorar, pensar e bailar, sentir saudades e olhar o céu, para além dos montes, tal como acontecia na poesia medieval.
Também podemos encontrar em Palavras, Frases e Expressões do Minho Profundo narrativas, plenamente reescritas com as categorias de qualquer diegese, vividas quase em primeira pessoa, o que prova que não estamos perante um narrador heterodiegético, mas sim um narrador, autodiegético e omnisciente. Acrescentamos, então, que temos à nossa frente um verdadeiro contador de histórias, que pega numa simples palavra e, com o engenho e sabedoria de um alquimista, a transforma em ouro.
 Para concluir, quero apenas adicionar, ao que tenho estado a dizer, que mais do que um produto final, de uma colheita qualquer, Palavras, Frases e Expressões do Minho profundo do professor José Augusto é a semente de futuros esforços a serem promovidos por todos os promotores culturais da Nossa Terra.
É URGENTE continuar a recolher, organizar, vivenciar e divulgar todo o tipo de tradições orais da nossa terra. Contos e poemas populares, lendas, adivinhas, lengalengas, anedotas, provérbios, orações, e canções tradicionais… Todo um património que vai morrendo a cada dia, à medida que morrem os únicos detentores desse conhecimento: os nossos pais, os nossos avós e os nossos bisavós. Todo este trabalho deve ser feito com rigor e coração e sempre com o respeito e o cuidado de preservar aquilo que é a identidade cultural dum povo.

«UM POVO SEM MEMÓRIA É UM POVO SEM FUTURO»

- Parabéns, meu amigo José Augusto, e obrigado.


*expressões retiradas do livro Palavras, Frases e Expressões do Minho Profundo de José Augusto Gonçalves

Carlos Afonso

1 comentário:

  1. Boa tarde, gostaria de saber onde posso encontrar este livro e se possível o valor do mesmo.
    saudações folclóricas.

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