quarta-feira, 2 de julho de 2014

O CORREDOR DO PISO SETE DO IPO DO PORTO É A AVENIDA MAIS LONGA DE TODA A CIDADE…





Em todas as cidades grandes há avenidas feitas de destinos, pessoas, carros, barulho, árvores, flores na primavera, sol e chuva, dias e noites, sonhos e vontade de seguir e de chegar…
Em todas as cidades grandes há avenidas marcadas por um princípio e por um fim.

O corredor do piso sete do IPO do Porto é a avenida mais longa de toda a cidade…
O corredor do piso sete do IPO do Porto começa e acaba nos vidros de duas janelas que mostram o que apenas deixam ver…
Os olhos que olham veem:
 pedaços de cidade
 luz dos outros
sons desiguais
alguns acenos
 passos apressados ou parados
 metas de olhares que ainda procuram e…  quase desistem
 ramos ao vento
e aldeias e vilas e casas de longe…  gravadas no coração dali…
e…

O corredor do piso sete do IPO do Porto deixa-se percorrer por tubos, sangue, roupa suja, cheiros sem flores, feridas à mostra, caras por lavar, brancos diversos,  remédios que enganam e…  homens e mulheres e velhos e jovens e mães e filhos e irmãos e…
estes sofrem
aqueles  sofrem
os outros partilham dores
e os outros trabalham…

O corredor do piso sete do IPO do Porto é a avenida mais longa de toda a cidade e…
 neste corredor há uma mulher que gosta de tulipas amarelas, um rapaz que quer ir a Fátima a pé e um homem que gosta de fazer pizas…

Carlos Afonso


quinta-feira, 26 de junho de 2014

NOTA INTRODUTÓRIA AO LIVRO SOLIDÁRIO «O SÍTIO ONDE MORAM AS CORES DO ARCO-ÍRIS»


  


 "Não podemos ter medo da solidariedade"
                                                                               Papa Francisco


Uma das maiores grandezas da disciplina de Literaturas de Língua Portuguesa é a possibilidade que oferece aos alunos de, e para além de poderem usufruir das obras dos vários autores de Língua Portuguesa, darem azo à sua criatividade, interligando-se sempre com o meio que os cerca. A palavra, a alma, o sonho, o coração e o engenho surgem, assim, juntos e em sintonia.
Ao estudarmos o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade, as suas palavras soaram alto no nosso entendimento e a brisa afagou-nos o olhar.
O poeta disse:
 «A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.»
E nós respondemos:
«As frases estão certas. O poeta tem razão. A felicidade existe. Temos de SENTIR O CORAÇÃO!»
O movimento “Sentir o coração”, inspirado na poesia de Carlos Drummond de Andrade, nasceu na Escola Secundária de Fafe, numa das minhas aulas de Literaturas de Língua Portuguesa, com o objetivo de ajudar um dos alunos, que precisava da nossa atenção e carinho.
O Nuno sorriu! A nascente brotou… e o espírito solidário, envolto em palavras e orvalho, começou a caminhar para o mar.
  O primeiro passo foi dado com a realização de uma oficina de escrita no Centro Social e Paroquial de Revelhe, regida pelos alunos do 12ºI, de onde surgiram os primeiros trabalhos, e o repto para a edição do livro O Sítio Onde Moram as Cores do Arco-Íris começou a ganhar forma.
A onda de solidariedade foi crescendo. Aos primeiros textos e desenhos, construídos pelos meninos do Centro Social, outros se juntaram, com a colaboração de vários autores de todas as idades. Aos poucos, e acariciado pelas cores do amor, o livro O sítio onde moram as cores do Arco-Íris mostrou-se no horizonte.
 Que lindo! Que perfume!
            - O livro está pronto. E agora? Como vamos editá-lo? - alguém suspirou.
            Uma das maiores certezas que nos acompanha é que Deus existe.
            Deus escutou as nossas preocupações e permitiu que mais pessoas se associassem ao movimento “Sentir o coração”. A Naturgipe ofereceu-nos a sua força e outros corações ofertaram-nos gestos, sorrisos e tempo. O pequeno regato ganhou caudal e o mar começou a ficar mais perto.
            Da venda do livro O sítio onde moram as cores do Arco-Íris nascerão outros livros que irão enriquecer a jovem biblioteca do Centro Social e Paroquial de Revelhe, também ela germinada no movimento “Sentir o Coração”.
            Hoje, as crianças já podem olhar, com mais clareza, o céu e construírem as suas histórias com final feliz. Amanhã, o Arco-Íris continuará a mostrar as suas cores definidas e repletas de esperança.

            Obrigado!


Carlos Afonso

segunda-feira, 9 de junho de 2014

O SENTIDO DAS PALAVRAS...



Depois de um dia inteiro de reuniões na Escola Secundária, e depois de um fim de semana no IPO, preocupado com a saúde de um familiar que me é muito querido, abro a página e vejo o que as minha palavras provocaram, e que me estão a provocar sentimentos contraditórios.
O que eu mostrei no Club Fafense foi o meu descontentamento perante um silêncio que não entendi, e nem entendo, perante um evento cultural, que a associação Atriumemoria estava a organizar, e que tinha a colaboração de muitas Associações de Fafe e de alguns lugares ligados a Camilo Castelo Branco. De facto, já há meses que muitas pessoas estavam a trabalhar intensamente nessa iniciativa que considerávamos importante para Fafe e para a literatura.
Como o silêncio foi a resposta da entidade que sempre apoiou estas iniciativas, ficamos deveras preocupados, e a mim causou-nos imensa tristeza ter de cancelar o que julgávamos importante.
Ao dizer, de uma forma sentida que iria mudar de "lugar" para continuar a viver a cultura, como gosto de a viver, estava a salientar que trabalhar com outras terras ligadas a Camilo seria o meu próximo objetivo. Igualmente me iria afastar de tantos silêncios que a mim me causam muito mau estar. Claro que o farei, mas continuarei a viver em Fafe, a trabalhar pela terra que me acolheu, assim como a desenvolver atividades que não me causem tanto cansaço e certas incompreensões.
Agradecia que os amigos não fizessem desta situação um fim do mundo. Agradeço as mensagens que tenho recebido, pois nunca imaginei que o meu desabafo (o meu grito de alerta) causasse tanta confusão. Mas penso que já chega, pois as coisas já começaram a mudar e para MELHOR.
Neste momento estou ligado a um projeto pedagógico que considero muito interessante, ligado também, à Atriumemoria, e que já foi apresentada a versão mais popular em Estorãos, ligado ao Ciclo do Pão, e na próxima quinta feira será apresentada a versão mais escolar na Escola da Devesinha,a partir de um conto que escrevi e que se chama «O velho e o grão de milho».
Peço também a atenção para uma grande iniciativa solidária que estou a coordenar com os meus alunos, e muitos outros amigos, e que tem como base um livro solidário a favor da criação de uma Biblioteca Escolar no Lar da Criança de Revelhe. O livro já está à venda em vários lugares e chama-se «O sítio onde moram as cores do Arco-Íris, e que pedia a todos os amigos, e se assim o entendessem, que o comprassem e que ajudassem as crianças que precisam da nossa ajuda.
Como os amigos podem ver, eu continuo a lutar por aquilo em que acredito.
Amo Fafe e todos os fafenses, não sou homem de virar costas a quem me quer bem, mas tenho o direito de alertar para situações que não podem voltar a acontecer.
E como um amigo sincero me confidenciou numa bela mensagem, acabo este meu texto de uma forma que considero certa, e que dizia mais ou menos assim " se amamos as cores do Arco-Íris e o que elas significam, também temos de compreender as tempestades, pois sem elas não há Arco-Íris."
Sempre gostei de "construir pontes" entre as pessoas, e é o que continuarei a fazer.
Agradeço a vossa preocupação, mas vamos ficar por aqui.

Com amizade

Carlos Afonso

terça-feira, 27 de maio de 2014

NO dia 30 de maio, O ARCO-ÍRIS PINTARÁ AS TERRAS DE FAFE

NO dia 30 de maio, O ARCO-ÍRIS PINTARÁ AS TERRAS DE FAFE

Na noite do dia 30, traga uma cor do arco-íris e entre numa história mágica «UMA AVENTURA NO JARDIM DOS SONHOS»

Aberto a todos os que têm um coração solidário, o lançamento do livrosolidário será o motivo maior para acontecer um grande evento solidário, no campo de jogos Escola Secundária de Fafe, com a presença de vários grupos musicais e outros momentos recreativos.
No dia 30, venha à Escola Secundária, traga uma cor do Arco-Íris (roupa/fita/...) e entre numa aventura mágica «Uma aventura do Jardim dos Sonhos»
(Esta iniciativa tem como objetivo ajudar as crianças e jovens do Lar da Criança de Revelhe. A criação de uma biblioteca é uma das principais intenções, para que as crianças tenham as condições necessárias para que o seu futuro seja mais feliz)

Por favor, divulgue esta iniciativa e ajude as crianças a sorrir...

sexta-feira, 16 de maio de 2014

ALMA DOS CANAVIAIS E OUTRAS HISTÓRIAS - um livro de viagens?



            Nestes últimos anos, muitas histórias compuseram a minha vida, enrodilhadas num permanente caminhar por espaços, pessoas, sonhos e vivências. Assim, e porque os momentos também devem ser partilhados, Alma dos Canaviais e outras histórias… não é mais do que um aglomerado de pedaços de mim, num permanente interagir com os outros.
De Trás-os-Montes ao Minho, de Fafe a Alfândega da Fé, do norte ao sul de Portugal, de Paris a Moscovo, as palavras soltam-se num irrequieto viajar.

                                      
                                                           Pedido
                                       Nunca ansiei o brilho das estrelas…
                                       Jamais desejei a precisão dos espaços…
                                       Recusei sempre o devaneio dos ventos….

                                       Peço apenas, aos que têm sonhos por cumprir,
                                       Para que leiam os meus sinais,
                                       Escutem o murmúrio das palavras que escolhi,
                                       Colham alguns pedaços de mim
                                       E amem a frescura amena dos canaviais…

           
“É que, as páginas deste livro são desenhadas pela bipolaridade dos géneros que nele convivem; pela diversidade das temáticas que lhe emprestam o colorido; pelos espaços de memória que permite revisitar; pela evocação das figuras que se pretende homenagear; pelo “prazer da leitura” que poderá ser saboreado, em função do sortilégio da dança das palavras, gravadas ora à maneira de poemas líricos, ora de reflexões e relatos em forma de crónica quase diarística.
Trata-se de efabulações surgidas às golfadas da alquimia de uma alma consabidamente poética, mas alternando com narrativas que a correnteza das rotinas fez brotar de feição continuada. Nestes textos, ressaltam retalhos de um olhar penetrante e perscrutador do quotidiano, que a todos nos circunda, embora escape ao nosso olhar normalmente demasiado ocupado, distante e alheado.”
                                               António Teixeira (autor do prefácio)


 A obra Alma dos Canaviais e outras histórias vai ser apresentada no dia 23 de maio,  pelas 21h30, na Sala Manoel de Oliveira, em Fafe.


Carlos Afonso

sábado, 19 de abril de 2014

O ÚLTIMO OLHAR DE JESUS



Desde há dois dias para cá que a cidade se cobria com umas enfadonhas e molhadas tardes, indefinindo rostos, apagando flores primaveris, abafando almas, escondendo caminhos e alumiando muitas ausências. Maria era uma das muitas pessoas que habitavam por ali, sem que ninguém lhe tenha dito para se mudar. Para quê? O destino não o permitiria. A não ser que um olhar maior lho consentisse
Maria já não sabia o que fazer. Meia adoentada por uma indisposição qualquer que não sabia definir, os dias pareciam-lhe demasiado tristes e sem sentido! O seu corpo de mulher de vinte e três anos continuava em desacordo com os conceitos gerais de beleza e nenhum olhar de rapaz mais afouto o procurava para lhe descobrir algum sabor. A mãe de setenta e tantos anos continuava acamada e repleta de sofrimento, pois não havia dinheiro para um tratamento a sério. O único irmão, mais velho do que ela fora levado por um tio para as américas. Quanto ao seu emprego, tudo na mesma. O patrão fechara a fábrica sem dizer nada, há mais duas semanas, sem o mínimo espírito de arrependimento, não pagando os ordenados desde janeiro. Pelo que alguém disse, foi-se embora de Portugal no seu jato particular. Pudera, para quem tem mais de um dúzia de empresas na América latina, fechar uma simples fábrica no Minho não causa qualquer tipo de remorsos.
Desempregada, penso que o nome correto é mesmo este, apesar de segunda a sexta, sem que uma semana passe em claro, tanto ela como as suas colegas de ofício, continuarem a passar algumas horas no seu ainda local de trabalho, mesmo de portas fechadas e com as máquinas paradas. Algum dinheiro que possa chegar a mando dos tribunais viria mesmo a calhar.
Faltavam apenas dois dias para a Páscoa e era preciso manter a tradição. Uma mesa mais enfeitada com todas as iguarias da época seria o ideal. O problema é que na carteira não havia a quantia necessária para gastos maiores, quanto mais para comprar um pão-de-ló e, mais a mais, já há muito que a ridícula reforma da mãe tinha ficado resgatada na farmácia e noutros sítios onde se pagam dívidas.

 E porque a mãe tinha o direito a um dia especial como todos os outros, sentia-se obrigada a fazer alguma coisa. Depois de a cuidar com todo o carinho que lhe é reconhecido, deu-lhe um imenso beijo no rosto, e despediu-se, dizendo que vinha já. Como a mãe já almoçara, Maria pensou que ela não precisaria de o fazer, pois, dessa forma, o jantar já estaria feito. Uma simples maçã e um copo de leite resolveriam o seu problema e nem à mesa se sentou. Deixando a mãe sossegada e com alguma paz, foi para o seu quarto, mas como constatasse que o frasco de perfume já estava vazio, arranjou-se como pode e, dali a pouco tempo, saiu. Era Sexta-feira Santa e a chuva continuava a cair, dando a este dia nomeado as cores exatas com que o mundo cristão o tinge.
Por volta das três horas da tarde, o exato momento em que Maria passava em frente à Igreja de São José, bem no centro da cidade de Fafe, um mal-estar sem precedentes fê-la cair sem estrondo no lajedo do passeio. Angustiada e sem forças para se erguer, sentiu a quentura do sangue a afagar-lhe o rosto e uma ou outra voz que a interpelavam. Sem ânimo, fechou os olhos e desistiu. Dentro de si, brotou a leve lembrança de que Jesus Cristo também morrera numa sexta igual àquela e, dessa forma, Maria também aceitou a morte. Quem era ela para escolher outra hora? Não era qualquer um que acabava os seus dias numa data assim.
 A dada altura, e depois de uma imensa negritude jamais vivida, a alma trouxe à sua presença o rosto de um homem rodeado de paz, com um olhar mais brilhante do que o sol, e que, em breves palavras, lhe apontou o seu verdadeiro caminho:
- Maria, levanta-te e anda, a tua família e amigos esperam-te…
Sem jeito e surpresa na sua forma de estar, sempre conseguiu dizer:
- Senhor, que olhar tão belo… Eu conheço-vos… Vós… vós… sois Jesus.
E porque assim estava escrito, Maria voltou à vida e, para sua felicidade, em redor da cama do hospital, para onde fora levada depois de ter caído na rua, estavam a sua mãe, seu irmão com uns olhos azuis que encantavam e algumas das suas companheiras de trabalho.
Como tudo aconteceu para que este quadro, impensável ainda há pouco, pudesse acontecer, também eu, narrador, não sei responder. Ou sei?
Lá fora, o sol voltara e um perfume especial inundava os lugares e momentos.

                                                                                                                                             Carlos Afonso

quarta-feira, 2 de abril de 2014

A NAMORADA DO SOL (2 de abril, dia internacional do livro infantil)





Bela era a flor mais bela de todo o prado!
Bela tinha faces rosadas. A sua postura era elegante e esverdeada. O seu perfume sabia a mel, pormenor que fazia com que as abelhas das redondezas a beijassem todas as manhãs e todas as tardes e até quando começava o anoitecer. Como ela gostava dessas carícias!
O sol, esse então, e enquanto fosse dia, nunca tirava os olhos da beleza de Bela. Apenas à noite, e só porque era obrigado pelas leis do tempo, é que lá se escondia por detrás dos outeiros, para que a noite pudesse chegar. Como ele sofria, nos momentos da separação! Coitado!
Todas as manhãs, e bem de manhãzinha, o sol era sempre o primeiro a chegar ao prado. Depois, esperava que Bela acordasse e logo lhe oferecia um sorriso muito brilhante. A flor corava um pouquinho e sorria também.
Mas, naquela manhã, tudo mudou. Sem se saber como e de onde, chegou ao prado um vento feio e mau… 

 (continua)

Carlos Afonso