sábado, 4 de janeiro de 2014

«Da ideia JORNADAS LITERÁRIAS DE FAFE ao projeto JORNADAS CULTURAIS DE FAFE



(Este texto surge da necessidade de dar algumas respostas e esclarecimentos às muitas perguntas que me têm sido dirigidas, nestes últimos tempos, por parte de professores, Presidentes de Junta, responsáveis de várias associações culturais e outras pessoas em particular, relativamente às próximas Jornadas Literárias de Fafe, a realizar em 2014.)

Um grande poeta português escreveu um dia que os MITOS não se inventam, eles nascem e crescem de acordo com a vontade e a necessidade de um povo. E se assim é, não admira, no meu modesto entendimento, que Fafe também tenha vivenciado esse destino ao longo da sua história.

            Desde há uns anos para cá que em Fafe está a ser construído um projeto cultural, sempre em crescendo, com objetivos claros e dignos, cuja seiva que o vai alimentando advém do suor, sonhos, alma, tempo e coração de muitos fafenses.
 Ainda me lembro a hora e o local como tudo começou. Estávamos em outubro de 2009, numa aula de Literatura Portuguesa, altura em que questionei os meus alunos acerca do que iriamos fazer no Projeto Individual de Leitura, componente obrigatória da disciplina. Numa resposta visionária, uma aluna adiantou-me que podíamos estudar os escritores de Fafe e “(…) fazer algo como umas Jornadas Literárias, professor(…)”. Bendita a hora em que a minha aluna disse o que lhe nascera no entendimento, pois, e a partir daí, a nascente do rio começou a jorrar e nunca mais deixou de correr. Assim, e logo em março de 2010, a Escola Secundária de Fafe, o ventre materno das Jornadas, interligou-se com a Câmara Municipal e, em parceria, começaram a erguer tão importante construção: as Jornadas Literárias de Fafe.

            Se no início o rosto do evento, ainda a dar os primeiros passos, era apenas literário e muito ligado aos escritores fafenses, com os anos, outras metas se foram abrindo e outras vertentes culturais vieram à luz do dia. E tudo foi acontecendo e crescendo, porque mais agentes se associaram ao projeto, concretamente, Escolas, Município, Freguesias, Associações e Instituições. Isto é, todo o Concelho de Fafe, imbuído de um só peito e amor a Fafe, ergueram a sua vontade e têm trabalhado em prol das «Jornadas Literárias de Fafe».
Quando olhamos para a bandeira que define as Jornadas Literárias podemos ler e sentir mensagens lindas, sugerindo toda uma unidade que nasce na diversidade das gentes que habitam as terras de Fafe. As suas reais cores, em forma de telhas, idênticas às que cobrem o casario de traça brasileira que enfeita as nossas ruas, mostram que a verdadeira cultura abarca o fio que ata a existência de todos os fafenses. As Jornadas Literárias abraçam e misturam todas as cores políticas, clubísticas, associativas, administrativas, bairristas, etc… derivando daí uma substância incolor e pura: AMOR A FAFE…
            Se a ideia das Jornadas me foi oferecida numa sala de aula, na Escola Secundária, a ideia de fomentar a iniciativa «Fafe dos Brasileiros» veio à luz do dia, quando numa bela tarde, descendo a escadaria da Casa da Cultura, com o livro de Miguel Monteiro, com um título bem do tamanho de dois continentes e um oceano, debaixo do braço, me foi segredado à inspiração para continuar o que tinha sido começado. Dali, fui tomar um café à Brasileira, onde, com ajuda de um papel em branco e uma caneta quase gasta, escrevinhei a intenção de colocar no programa das Jornadas Literárias uma nova visão. E foi desta forma que o passado começou a movimentar-se num presente com futuro. Uma minha participação na «Rota da Desfolhada», em Várzea Cova, ajudou a definir o que faltava.

            Nos finais do Séc. XIX e princípios do Séc. XX, muitos fafenses fomentaram a demanda entre dois povos, Portugal e o Brasil, numa torna viagem com muitos sucessos. No Séc. XX, 1991, Miguel Monteiro, um homem visionário e com muito querer, colocou em livro histórias e rumos, dando-lhe o único título possível: «Fafe dos Brasileiros». Já no Séc. XXI, e porque tinha de ser assim, tive a sorte de poder dar início a uma outra perspetiva que poderá ir muito longe e imortalizar quem de direito e por necessidade. Comecei, assim, a partir de alicerces bem assentes em factos da história e na lucidez e mestria de Miguel Monteiro, a definir uma outra vertente de «Fafe dos Brasileiros».

            Com a ajuda das escolas, freguesias e associações de todo o Concelho e Município, mais um grupo de amigos, tão enlevados pela cultura como eu, a onda branca assomou na praia e foi de ilha em continente e poderá, se os fafenses assim o quiserem, ir até ao fim do mundo. Foi o acreditar numa visão necessária por parte de todo um conjunto de pessoas com alma e crença que conduziu a que novas peças se interligassem ao projeto cultural que se está a fomentar em Fafe.

E foi assim que «Fafe dos Brasileiros» se apegou às «Jornadas Literárias de Fafe».

            No ano de 2013, as Jornadas Literárias brilharam no campo cultural de Fafe, atingindo um patamar muito alto. E bem dentro de toda a sua abrangência e transversalidade, «Fafe dos Brasileiros» mostrou os seus princípios, e que foram muito bem entendidos e ovacionados, na sua capacidade de entrelaçar a cultura, o turismo e a riqueza económica. Mas, e porque a vida é assim, está na hora de melhorar e afinar o novo horizonte que se avizinha. A forma como «Fafe dos Brasileiros» se assumiu leva a que outros caminhos se percorram, situação que tem de conduzir a um desenhar de forma mais global a cultura que se esboça em Fafe.

            Na verdade, foram as «Jornadas Literárias de Fafe» que “pariram” «Fafe dos Brasileiros», mas, agora, está na hora do “filho” voar noutro sentido para poder crescer. Ao criar-se uma nova denominação, como já há muito tem vindo a ser defendida, leva a que não haja confusões e a que a vertente mais etnográfica não choque com a visão mais literária. Assim, as futuras «JORNADAS CULTURAIS DE FAFE» surgirão do conjunto das novas «Jornadas Literárias de Fafe» e de «Fafe dos Brasileiros», a realizar em alturas diferentes e adequadas às circunstâncias e realidades.

            Ora bem, mas para quando esta nova visão e esta diferente perspetiva?
            Quanto às novas “Jornadas Literárias de Fafe”, assentes numa vivência mais voltada para a literatura, onde a escrita, a leitura e a criatividade assumem linhas de destaque, elas realizar-se-ão nos dias 19,20 e 21 de março, englobando o «Dia Mundial da Poesia». A ligação às escolas e a organismos literários será realçada e fomentada.
            Relativamente a «Fafe dos Brasileiros», centrada numa dinâmica cultural, turística e económica, a sua concretização terá que ser desenvolvida numa altura mais propícia, permitindo uma maior utilização de espaços ao ar livre e contando com a presença dos nossos emigrantes.
        Igualmente, terão de desenvolver-se condições, para que as freguesias, associações e as pessoas responsáveis pela sua realização possam deitar mãos ao trabalho e fazerem de «Fafe dos Brasileiros» uma fonte de riqueza para as terras de Fafe. Não convém esquecer o que acontece em Santa Maria da Feira ou em Óbidos. Nesta nova caminhada, pouco ou nada pode fazer um grupo de amigos, onde eu me incluo, com muita vontade e ideias, mas sem as condições necessárias para arrancar e seguir.

            Se as entidades económicas e políticas que regem o Concelho de Fafe tiverem mais ousadia e vontade, libertas de alguns preconceitos e medos, poderão ajudar a construir uma iniciativa muita frutífera para Fafe. Não esquecer que o Município, Freguesias, Associações e muitas pessoas em particular já mostraram do que são capazes. Com mais ajudas e incentivos poder-se-á fazer muito mais e melhor.
Tenho a certeza que «Fafe dos Brasileiros», e se as pessoas que o podem ajudar a fazer quiserem, poderá ser um excelente meio de promover as tradições, a gastronomia, a música, a arquitetura e as memórias de todo um povo, associando a cultura e o turismo com o desenvolvimento económico.
NUNCA PODEMOS ESQUECER QUE O PASSADO, OLHADO COM CRIATIVIDADE E AMOR, PODE CONDUZIR A UM FUTURO MAIS BRILHANTE E FELIZ.
          


                                                                                               Carlos Afonso

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