Há algum tempo atrás, numa noite em
que participava num atividade cultural na Biblioteca Municipal de Fafe, um
homem com alguma idade, meu conhecido e que muito estimo, numa postura digna e
comovida, abeirou-se de mim e colocou-me nas mãos uma simples carta de amor, uma
carta que fazia parte de uma sua antiga vivência sentimental, ainda em memória
e coração. Depois de algumas palavras trocadas, foi-me acrescentando, numa voz
que me soou a saudade, que essa carta era um tesouro e que fazia parte do espólio
de uma linda história de amor. Igualmente me foi adiantando que poderia ser utilizada
como princípio e motivação para uma outra narrativa que eu, se assim o
entendesse, quisesse ou pudesse escrever. Agradecido por tamanha confiança e
prova de amizade, olhei com carinho o homem, que se mantinha frente a mim, hirto
na sua dignidade e sentimento, à espera do que eu dissesse. É evidente que eu
sorri e… mais nada. No ar, e porque a ocasião o proporcionou ou alguém o forçou,
senti um cheiro suave a rosas.
Depois
daquele encontro na Biblioteca, e já em casa, fui à carteira onde havia guardado
a carta, tirei-a com alguma pressa e li-a de uma forma bem atenta, ao mesmo
tempo que ia sentindo alguns apertos na alma. De seguida, e já envolto numa
postura mais racional, lembrei-me que, se calhar, a história ou o romance que
viesse a escrever a partir da missiva daquele homem com alguma idade poderia
chamar-se “Uma Rosa para Ti…”. Mas quando é que eu arranjaria tempo para tão atraente
desafio, se a minha vida de professor, pai, coordenador das Jornadas Literárias
de Fafe e de mais afazeres me pegaram o tempo todo? Sem querer pensar mais no
assunto, uma vez que me sentia bastante cansado, fui dormir, pois já era
bastante tarde. Nessa noite, nenhum sonho me acordou!
Passados alguns dias, e numa reunião
do Núcleo de Artes e Letras de Fafe, organismo cultural a que pertenço, e numa
altura em que estávamos a programar as iniciativas a realizar ao longo do ano,
veio-me à cabeça de propor um evento cultural para comemorar o dia dos
namorados, cujo nome poderia ser “Uma Rosa para Ti…”.
Como era de prever, e uma vez que a
meu lado estavam pessoas com uma grande sensibilidade cultural e sentimental, a
ideia foi aprovada por unanimidade. E o que era inicialmente um sonho vago e
indefinido começou ali mesmo a roçar os alicerces do real e do desvendar a
espuma.
E porque os dias passam, mas os
projetos em que acreditamos permanecem presos ao nosso querer, rodeei-me das
pessoas certas que encontrei na Escola Secundária e de Bailado de Fafe e na
Academia José Atalaya, dormi menos algumas horas, procurei as palavras de que
precisava, escrevi o guião, associei-lhe os acrescentos necessários e, tal como
afirma Fernando Pessoa, a obra nasceu:
“E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou,
correndo, até ao fim do mundo,
E
viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir,
redonda, do azul profundo.”
Eu
sei que as coisas perfeitas não existem, e jamais eu as conseguiria encontrar
ou construir com demasiadas perfeições, tendo em conta as minhas incompletudes, mas o que sei é que o sonho
acrescido do querer, esperança e muito trabalho, às vezes, quase faz milagres.
Assim, no dia 9 de Fevereiro, pelas 21h30, véspera do dia dos namorados, a cortina do palco do Teatro-Cinema abriu-se de par em par e o amor encheu de afetos e brilho todos os presentes. As palavras, a música, a dança, o engenho, a vontade, os corações e muitas rosas soltaram-se, condignamente entrelaçados, e tudo aconteceu…
Assim, no dia 9 de Fevereiro, pelas 21h30, véspera do dia dos namorados, a cortina do palco do Teatro-Cinema abriu-se de par em par e o amor encheu de afetos e brilho todos os presentes. As palavras, a música, a dança, o engenho, a vontade, os corações e muitas rosas soltaram-se, condignamente entrelaçados, e tudo aconteceu…
E porque quero terminar, apenas acrescento que “Uma Rosa para Ti…” apenas teve
o seu primeiro momento. Na verdade, e quando o tempo me emprestar mais algumas
horas, terei muito gosto em ir mais longe, bem àquele sítio onde os lírios florescem ao
sabor das muitas cores com que o amor se tinge. E, no mesmo sítio, concretamente
na Biblioteca Municipal de Fafe, e se calhar à mesma hora, devolverei a carta àquele homem com
alguma idade, entregando-lhe também para as mãos um romance ou, se calhar, uma outra
história, com o título já há muito tempo definido: UMA ROSA PARA TI...
Carlos
Afonso
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