domingo, 10 de fevereiro de 2013

A verdadeira história de UMA ROSA PARA TI…



            Há algum tempo atrás, numa noite em que participava num atividade cultural na Biblioteca Municipal de Fafe, um homem com alguma idade, meu conhecido e que muito estimo, numa postura digna e comovida, abeirou-se de mim e colocou-me nas mãos uma simples carta de amor, uma carta que fazia parte de uma sua antiga vivência sentimental, ainda em memória e coração. Depois de algumas palavras trocadas, foi-me acrescentando, numa voz que me soou a saudade, que essa carta era um tesouro e que fazia parte do espólio de uma linda história de amor. Igualmente me foi adiantando que poderia ser utilizada como princípio e motivação para uma outra narrativa que eu, se assim o entendesse, quisesse ou pudesse escrever. Agradecido por tamanha confiança e prova de amizade, olhei com carinho o homem, que se mantinha frente a mim, hirto na sua dignidade e sentimento, à espera do que eu dissesse. É evidente que eu sorri e… mais nada. No ar, e porque a ocasião o proporcionou ou alguém o forçou, senti um cheiro suave a rosas.

            Depois daquele encontro na Biblioteca, e já em casa, fui à carteira onde havia guardado a carta, tirei-a com alguma pressa e li-a de uma forma bem atenta, ao mesmo tempo que ia sentindo alguns apertos na alma. De seguida, e já envolto numa postura mais racional, lembrei-me que, se calhar, a história ou o romance que viesse a escrever a partir da missiva daquele homem com alguma idade poderia chamar-se “Uma Rosa para Ti…”. Mas quando é que eu arranjaria tempo para tão atraente desafio, se a minha vida de professor, pai, coordenador das Jornadas Literárias de Fafe e de mais afazeres me pegaram o tempo todo? Sem querer pensar mais no assunto, uma vez que me sentia bastante cansado, fui dormir, pois já era bastante tarde. Nessa noite, nenhum sonho me acordou!

Passados alguns dias, e numa reunião do Núcleo de Artes e Letras de Fafe, organismo cultural a que pertenço, e numa altura em que estávamos a programar as iniciativas a realizar ao longo do ano, veio-me à cabeça de propor um evento cultural para comemorar o dia dos namorados, cujo nome poderia ser “Uma Rosa para Ti…”.

Como era de prever, e uma vez que a meu lado estavam pessoas com uma grande sensibilidade cultural e sentimental, a ideia foi aprovada por unanimidade. E o que era inicialmente um sonho vago e indefinido começou ali mesmo a roçar os alicerces do real e do desvendar a espuma.

E porque os dias passam, mas os projetos em que acreditamos permanecem presos ao nosso querer, rodeei-me das pessoas certas que encontrei na Escola Secundária e de Bailado de Fafe e na Academia José Atalaya, dormi menos algumas horas, procurei as palavras de que precisava, escrevi o guião, associei-lhe os acrescentos necessários e, tal como afirma Fernando Pessoa, a obra nasceu:

 “E a orla branca foi de ilha em continente,

Clareou, correndo, até ao fim do mundo,

E viu-se a terra inteira, de repente,

Surgir, redonda, do azul profundo.”

 

Eu sei que as coisas perfeitas não existem, e jamais eu as conseguiria encontrar ou construir com demasiadas perfeições, tendo em conta as minhas incompletudes, mas o que sei é que o sonho acrescido do querer, esperança e muito trabalho, às vezes, quase faz milagres.
Assim, no dia 9 de Fevereiro, pelas 21h30, véspera do dia dos namorados, a cortina do palco do Teatro-Cinema abriu-se de par em par e o amor encheu de afetos e brilho todos os presentes. As palavras, a música, a dança, o engenho, a vontade, os corações e muitas rosas soltaram-se, condignamente entrelaçados, e tudo aconteceu…

E porque quero terminar, apenas acrescento que “Uma Rosa para Ti…” apenas teve o seu primeiro momento. Na verdade, e quando o tempo me emprestar mais algumas horas, terei muito gosto em ir mais longe, bem àquele sítio onde os lírios florescem ao sabor das muitas cores com que o amor se tinge. E, no mesmo sítio, concretamente na Biblioteca Municipal de Fafe, e se calhar à mesma hora, devolverei a carta àquele homem com alguma idade, entregando-lhe também para as mãos um romance ou, se calhar, uma outra história, com o título já há muito tempo definido: UMA ROSA PARA TI...

 

                                                                                               Carlos Afonso

           

 

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