segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A RAPARIGA DAS CASTANHAS

                                             


            Nessa manhã acinzentada, mas sem chuva, o Francisco pegou nos livros e foi para a escola. Mas quando passou pela Padaria Silva, e porque achava que ainda tinha tempo, e porque ainda não tinha tomado o pequeno-almoço, decidiu entrar.
            Como os pais tinham de se levantar sempre cedo, para ir trabalhar, Francisco, e apesar de ser sempre acordado à mesma hora, pela sua música de eleição, que o seu telemóvel Nokia lhe oferecia, gostava sempre de ficar mais um bocadinho debaixo dos lençóis, por isso é que muitas vezes não tinha tempo de comer. Só no intervalo das dez horas é que comia qualquer coisa no bar da Escola Secundária. Mas nessa manhã decidiu-se pela padaria Silva, pois os três euros que a avó Alcina lhe dera no fim-de-semana, ainda se escondiam num dos bolsos das calças de ganga. Sentou-se, pediu um bolo, um sumo e meia dúzia de chicletes e, calmamente, lá foi mastigando a farta ementa, enquanto ia discorrendo os olhos pela televisão, que passava breves resumos dos jogos de Domingo. O problema é que o tempo foi passando e, quando deu por ela, Já eram 9 horas. É bom que se diga que a sua aula de História começava às 8horas e trinta, tal como todas as outras, e meia hora de atraso era demasiado tempo. Sem se chatear muito pelo sucedido, e uma vez que não tinha faltas, lembrou-se de ir passear para o centro da cidade. Pegou na sacola, colocou-a às costas e lá foi.
A Manhã nem estava fria nem quente, apenas meia enevoada, mas até estava boa para dar uma volta. E para não dar muito nas vistas, em vez de passar perto da escola, resolveu fazer um percurso alternativo. Seria muito chato se os colegas, ou até os professores, o vissem.
Quando chegou à Arcada, sentou-se um pouco num banco de granito  que ali havia e começou a contar as pessoas que iam passando, ao mesmo tempo que rodopiava o telemóvel nas suas mãos.  E assim matou algum tempo. Depois, pegou no telemóvel, mandou uma mensagem a dois colegas, a explicar-lhe porque faltou às aulas, levantou-se e continuou a caminhada. No ar notava-se um cheiro intenso a castanhas assadas.
Desceu as escadas que aí existem, e quando passava junto do Bar da Praça, reparou que do seu lado esquerdo, estava uma rapariga a vender castanhas. Nesse momento, apeteceu-lhe provar as benditas castanhas e decidiu comprar uma dúzia delas, mas quando meteu as mãos ao bolso, viu que não tinha dinheiro. Pelos vistos, gastou os trocos  que tinha na pastelaria.  E agora? Ficaria para a próxima, pensou, provavelmente o Francisco.
            Entretanto, a rapariga das castanhas, que já o mirava há algum tempo, e como se apercebera do sucedido, chamou por ele:
- Anda cá, se não tens dinheiro, não faz mal, eu dou-te algumas – e, sem mais, meteu algumas num pacote de jornal e deu-lhas.
 Um pouco atordoado, o Francisco pegou nelas e não disse nada. Depois, levantou os olhos para ela e reparou no sorriso brilhante que se soltava do seu rosto. Era uma rapariga bem bonita! Olhos castanhos, cabelos escuros, tinha uma flor no cabelo e devia ter, mais ou menos a sua idade. Olhou-a, reparou nas suas mãos um pouco sujas do carvão, e sorriu-lhe também. Depois soltou duas palavras que mal se ouviram:
- Muito obrigado – e começou a descascar uma, mas sem tirar os olhos da vendedora, que, entretanto, se virara para uma velhota que tinha acabado de chegar e que queria comprar castanhas.
Quando a dita senhora se foi embora, o Francisco ofereceu à vendedora, a única castanha que havia descascado, e ela aceitou. Depois, conversa daqui, castanhas de acolá, os dois perderam-se no tempo, e nem reparam que o assador deixou de cumprir a sua função, pois ninguém lhe colocou carvão para que ele pudesse assar.
A partir desse dia, e durante a semana, a Rosa, era assim que se chamava a esbelta rapariga, nunca mais vendeu castanhas pelas ruas de Fafe, preferiu voltar para escola, que havia abandonado há algum tempo, e ser companheira de carteira do seu novo namorado, o Francisco.


   Carlos Afonso

  


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