Nessa
manhã acinzentada, mas sem chuva, o Francisco pegou nos livros e foi para a
escola. Mas quando passou pela Padaria Silva, e porque achava que ainda tinha
tempo, e porque ainda não tinha tomado o pequeno-almoço, decidiu entrar.
Como
os pais tinham de se levantar sempre cedo, para ir trabalhar, Francisco, e
apesar de ser sempre acordado à mesma hora, pela sua música de eleição, que o
seu telemóvel Nokia lhe oferecia, gostava sempre de ficar mais um bocadinho
debaixo dos lençóis, por isso é que muitas vezes não tinha tempo de comer. Só
no intervalo das dez horas é que comia qualquer coisa no bar da Escola Secundária.
Mas nessa manhã decidiu-se pela padaria Silva, pois os três euros que a avó
Alcina lhe dera no fim-de-semana, ainda se escondiam num dos bolsos das calças
de ganga. Sentou-se, pediu um bolo, um sumo e meia dúzia de chicletes e,
calmamente, lá foi mastigando a farta ementa, enquanto ia discorrendo os olhos
pela televisão, que passava breves resumos dos jogos de Domingo. O problema é
que o tempo foi passando e, quando deu por ela, Já eram 9 horas. É bom que se
diga que a sua aula de História começava às 8horas e trinta, tal como todas as
outras, e meia hora de atraso era demasiado tempo. Sem se chatear muito pelo
sucedido, e uma vez que não tinha faltas, lembrou-se de ir passear para o
centro da cidade. Pegou na sacola, colocou-a às costas e lá foi.
A Manhã nem
estava fria nem quente, apenas meia enevoada, mas até estava boa para dar uma
volta. E para não dar muito nas vistas, em vez de passar perto da escola,
resolveu fazer um percurso alternativo. Seria muito chato se os colegas, ou até
os professores, o vissem.
Quando
chegou à Arcada, sentou-se um pouco num banco de granito que ali havia e começou a contar as pessoas
que iam passando, ao mesmo tempo que rodopiava o telemóvel nas suas mãos. E assim matou algum tempo. Depois, pegou no
telemóvel, mandou uma mensagem a dois colegas, a explicar-lhe porque faltou às
aulas, levantou-se e continuou a caminhada. No ar notava-se um cheiro intenso a
castanhas assadas.
Desceu as
escadas que aí existem, e quando passava junto do Bar da Praça, reparou que do
seu lado esquerdo, estava uma rapariga a vender castanhas. Nesse momento, apeteceu-lhe
provar as benditas castanhas e decidiu comprar uma dúzia delas, mas quando
meteu as mãos ao bolso, viu que não tinha dinheiro. Pelos vistos, gastou os
trocos que tinha na pastelaria. E agora? Ficaria para a próxima, pensou,
provavelmente o Francisco.
Entretanto, a rapariga das
castanhas, que já o mirava há algum tempo, e como se apercebera do sucedido,
chamou por ele:
- Anda cá,
se não tens dinheiro, não faz mal, eu dou-te algumas – e, sem mais, meteu
algumas num pacote de jornal e deu-lhas.
Um pouco atordoado, o Francisco pegou nelas e
não disse nada. Depois, levantou os olhos para ela e reparou no sorriso
brilhante que se soltava do seu rosto. Era uma rapariga bem bonita! Olhos
castanhos, cabelos escuros, tinha uma flor no cabelo e devia ter, mais ou menos
a sua idade. Olhou-a, reparou nas suas mãos um pouco sujas do carvão, e
sorriu-lhe também. Depois soltou duas palavras que mal se ouviram:
- Muito
obrigado – e começou a descascar uma, mas sem tirar os olhos da vendedora, que,
entretanto, se virara para uma velhota que tinha acabado de chegar e que queria
comprar castanhas.
Quando a
dita senhora se foi embora, o Francisco ofereceu à vendedora, a única castanha
que havia descascado, e ela aceitou. Depois, conversa daqui, castanhas de
acolá, os dois perderam-se no tempo, e nem reparam que o assador deixou de
cumprir a sua função, pois ninguém lhe colocou carvão para que ele pudesse
assar.
A partir
desse dia, e durante a semana, a Rosa, era assim que se chamava a esbelta
rapariga, nunca mais vendeu castanhas pelas ruas de Fafe, preferiu voltar para
escola, que havia abandonado há algum tempo, e ser companheira de carteira do seu
novo namorado, o Francisco.
Carlos Afonso
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