domingo, 30 de janeiro de 2011

Ó Rio da Minha Memória

Nasceste nos Montes de León
E seguiste o sonho de ser um rio,
Igual a esses heróis sem medo,
Desenhados pelas garras afiadas dum destino,
Que no Verão te empresta as sedes das ribeiras,
E no Inverno as enxurradas e o frio.

Ó rio da minha memória,
Como as minhas mãos tremem,
Quando o rosmaninho florido das ladeiras
Lhes conta que te querem roubar as margens,
E esconder-te em estranhos recantos
Que não fazem parte da tua história!

Eu sei que eles são mais fortes do que o vento desvairado
E que os seus interesses não cabem
Debaixo desse fraguedo com importância,
Que sempre te olhou amplo de inveja.
Mas… não chores!
Mostra-lhes que os rios não morrem
E que és o dono da minha alada infância!

Para mim, serás sempre o rio da minha aldeia,
O passado que não quero olvidar,
O caminho que conduz o tropeçar gasto dos meus passos,
E a vida que continua a florescer à tona molhada do teu eterno desaguar.

Meu Sabor, digam o que disserem e façam o que fizerem,
Serás, sempre: livre e leve como as aves a quem deste de beber;
Agreste e doce como os montes que embalaste;
Esbelto e luzidio como os peixes que em ti cresceram,
Verdadeiro e franco como os luares que no teu leito se deitaram
E em ti, num martírio meigo, se afogaram,
Quando as noites mais escuras não os quiseram Acordar.


Carlos Afonso

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