sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Um final Feliz

«São os primeiros passos que definem os destinos das jornadas»

Um final Feliz
Era uma vez um povo que perdera o real sentido da esperança e já não sabia o verdadeiro significado das cores do arco-íris.
Já cansado de tantos desânimos e saudoso de uma bela madrugada de Primavera, pois já há muito que as flores haviam deixado de enfeitar os poucos jardins que ainda resistiam, o rei deste país, um homem mau e autoritário, que só conhecia o sabor do ódio e da guerra e que nunca tinha vertido uma única lágrima, decidiu dar um fim a toda esta situação. Parece que, finalmente, entendera que a culpa de toda esta situação era exclusivamente sua. Então, mandou chamar todos os adivinhos, bruxas e ciganas das redondezas para que lhe indicassem um rumo que pudesse libertar o seu reino e a si destes desígnios tão assombrosos. Caso isso não acontecesse, e ele deixara-o bem claro, cortar-lhes-ia a cabeça. Tudo foi em vão, pois o medo de todos os que foram convocados deitou tudo a perder.
Os dias foram passando, os meses começavam a perder o sentido e as noites eram cada vez mais negras.
Já farto do seu cargo real e da sua má sorte, o rei desfez-se da coroa e da sua majestosa capa, vestiu-se de camponês e disse aos seus conselheiros que, durante algum tempo, iria caminhar pelos seus bosques e vales, montanhas e rios em busca de uma derradeira solução para o seu mal fadado reino. Admirados com tão estranha decisão, toda a corte o tentou demover, mas a determinação do monarca ignorou todos os rogos.
Depois de caminhar horas e horas a fio sem nada encontrar, começou a sentir fome, mas não viu nada para comer. As árvores não tinham frutos, os campos estavam ressequidos, os rios perderam os seus peixes e as aves do céu já há muito que haviam esvoaçado para outras paragens. Sem saber o que fazer, sentou-se numa pedra, pegou num ramo seco e começou a escrevinhar no chão acastanhado. Como que inspirado não se sabe pelo quê, reparou que escrevera uma frase que não entendeu: A felicidade do homem mora na sinceridade do seu coração.
A dada altura, e ainda intrigado com o que acabara de escrever no chão, começou a ouvir ao longe a melodia afinada duma flauta. Admirado com tão inesperada circunstância, decidiu descobrir o misterioso tocador.
Chegado a uma cabana, bem escondida pelo matagal, encontrou um menino sentado num banco de madeira, rodeado de alguns animais selvagens, a tocar numa velha flauta de pastor.
Com uma voz forte e imperial mandou parar o jovem e perguntou-lhe o nome e o porquê de estar a tocar. Sem lhe mostrar medo, o menino disse-lhe que estava a entoar um hino aos deuses para que estes fizessem do seu rei um homem bom, amigo dos seus súbditos e que lhe devolvesse o seu pai que mantinha preso nas masmorras do castelo.
Sem saber o que replicar, o rei, disfarçado de camponês, sentiu um forte aperto no peito e caiu de joelhos na folhagem seca que alcatifava a cabana. Preocupado, o menino ajudou-o a sentar-se a seu lado e ofereceu-lhe a última maçã que tinha. Depois, num gesto simples e sem pudor, deu-lhe a flauta para as mãos e pediu ao rei que tocasse. Apesar de este repetir várias vezes que não sabia tocar, o menino insistiu, até que o rei colou o instrumento aos lábios e tocou uma melodia tão bela e harmoniosa que todos os campos e rios, céus e povoados do seu reino ganharam uma nova vida e os prados se encheram de belas flores. Como que por magia algumas lágrimas começaram a discorrer dos olhos do rei, olhos que nunca haviam chorado. E foi só neste momento tão especial que ele compreendeu que a solução para o mal que o oprimia a si é a todo o seu país sempre esteve bem ao seu alcance, mas que nunca o encontrara. E tudo por causa da dureza dos seus sentimentos. Afinal só era necessário escutar a sinceridade do coração.
Carlos Afonso

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