No passado
dia 31 de janeiro, tive a honra de apresentar mais uma obra do meu grande amigo,
professor José Augusto Gonçalves, e desta vez, em colaboração do meu colega, o
professor Amâncio Novais. Ambos nos debruçamos no assunto/tema, dimensão linguística
e visão pedagógica do livro Palavras, Frases e Expressões do
Minho Profundo. Sem
sombra de dúvida que esta tarefa foi deveras fascinante, tendo em conta a
grandeza e a vernaculidade do trabalho em causa.
É importante evidenciar o fervilhar
cultural que em Fafe se vive, nestes últimos meses, concretamente no que toca ao
assomar, à luz do dia, de certas obras centradas no património regional. Na
verdade, e numa altura em que Portugal “Anda c`o a mosca”* e “Andémos p`rá `qui
desmangados”,* eis que surgem nos nossos horizontes certas publicações, tal
qual pedras vivas e bem rijas da nossa existência, pertença do nosso povo,
pregadas às folhas inocentes de vários livros, nestas nossas formosas terras de
Fafe. E, como exemplo, podemos salientar as seguintes: «Santa Maria de
Aboim, o olhar sincero do Minho», coordenado por mim em coautoria com
historiadores e prosadores de Fafe; «Fafe, meu amor» de Artur Coimbra; «Fafe,
História, Memória e Património» de Daniel Bastos, Paulo Teixeira e José
Pedro, assim como o trabalho do professor João Ferreira, centrado nos dialetos
de Fafe, entre outros.
«Quando o passado não ilumina o futuro, o
presente vive nas trevas» - (Alexis de Tocqueville).
- Por que razão, o autor escreveu este livro?
*“Vivências do
passado: que nostalgia!
Costumes do passado: que ousadia!
Linguagem do
passado: que categoria!”
A obra Palavras, “Frases e Expressões do Minho Profundo”, que temos nas mãos, é muito
mais do que um aglomerado de páginas pintadas, ele é um dicionário de vidas,
contadas oralmente. Um livro escrito com alma, saudades, experiências,
histórias, louvor, respeito, amor e CARINHO por todo um povo que habita um
pedaço deste Minho profundo e que representa o que de mais puro e belo se
encontra no homem, especialmente na sua faceta que o faz chorar, rir, dormir,
falar e sentir.
Sem sombra de dúvida que toda a essência
que deriva deste livro escorre direitinha para a certeza de que estamos perante
um verdadeiro tesouro do nosso Património Cultural, e que temos a obrigação de
preservar.
E como refere o professor Abílio
Peixoto, no seu artigo do Diário do Minho, «José Augusto, apresenta-nos um
autêntico “tratado” de fonética (…) de incalculável valor etnográfico e linguístico”.
Este Manual
de Vida mostra claramente o linguajar de um povo retirado do dia-a-dia dos
falantes que habitam no meio dos montes, o Minho recôndito e profundo.
Na literatura de todos os tempos, a simbologia
dos Montes pode remeter-nos para esconderijo, lugar mais inacessível e elevado.
Os montes podem oprimir, pela sua faceta de impedir de caminhar. O
desenvolvimento pode chegar mais tarde ou não conseguir transpor as ladeiras
acentuadas. A ruralidade pode apertar mais os rostos. Mas, e é isso que nos
interessa agora, os Montes do nosso Minho escondido salvaguardaram toda uma
linguagem oral que já se falava no início da nossa nacionalidade, e que
continua com os mesmíssimos sons e sentidos. A vernaculidade do linguajar
do nosso povo é deveras fascinante. Até parece que os séculos não passaram.
Igualmente a Lei do menor esforço
continua a existir como acontecia há centenas de anos, permitindo que o falar
se torne mais rápido e fluído. Esta técnica assentava no suprimir letras/sílabas,
ou no interligar de palavras. O nosso povo continua a seguir estes ensinamentos
Podemos dizer que os séculos
passaram, mas o linguajar das gentes do Minho profundo continua na sua pureza
inicial.
Meus amigos, estamos perante um
fenómeno vivo que o tempo não foi capaz de alterar. Os MONTES protegeram as
nossas origens, e o professor José Augusto mostrou, com veemência, esta certeza,
ao gravar na sua obra todo o linguajar do povo do Minho profundo.
Uma das maiores grandezas deste
Dicionário de vidas feito, escrito com sons e coração, é ter a capacidade e
ousadia de nos contar histórias que nos fazem rir e chorar, pensar e bailar,
sentir saudades e olhar o céu, para além dos montes, tal como acontecia na
poesia medieval.
Também podemos encontrar em Palavras,
Frases e Expressões do Minho Profundo
narrativas, plenamente reescritas com as categorias de qualquer diegese,
vividas quase em primeira pessoa, o que prova que não estamos perante um
narrador heterodiegético, mas sim um narrador, autodiegético e omnisciente. Acrescentamos,
então, que temos à nossa frente um verdadeiro contador de histórias, que pega
numa simples palavra e, com o engenho e sabedoria de um alquimista, a transforma
em ouro.
Para concluir, quero apenas adicionar, ao que
tenho estado a dizer, que mais do que um produto final, de uma colheita
qualquer, Palavras, Frases e
Expressões do Minho profundo do professor José Augusto é a semente de
futuros esforços a serem promovidos por todos os promotores culturais da Nossa
Terra.
É URGENTE continuar a recolher,
organizar, vivenciar e divulgar todo o tipo de tradições orais da nossa terra.
Contos e poemas populares, lendas, adivinhas, lengalengas, anedotas,
provérbios, orações, e canções tradicionais… Todo um património que vai
morrendo a cada dia, à medida que morrem os únicos detentores desse
conhecimento: os nossos pais, os nossos avós e os nossos bisavós. Todo este
trabalho deve ser feito com rigor e coração e sempre com o respeito e o cuidado
de preservar aquilo que é a identidade cultural dum povo.
«UM POVO SEM MEMÓRIA É UM POVO SEM FUTURO»
- Parabéns, meu amigo José Augusto, e
obrigado.
*expressões
retiradas do livro Palavras, Frases e
Expressões do Minho Profundo de José Augusto Gonçalves
Carlos Afonso
Boa tarde, gostaria de saber onde posso encontrar este livro e se possível o valor do mesmo.
ResponderEliminarsaudações folclóricas.