Numa das minhas caminhadas
pela cidade de Fafe, terra que me fascina pela sua grandiosidade humana,
paisagem, casario, história, tradições e sentido hospitaleiro, encontrei um
velho amigo que, e a partir da nossa conversa atenta e demorada, me fez olhar
bem longe e partilhar com ele o que eu gostaria de ajudar a promover,
culturalmente, em Fafe, nos próximos tempos. A tarde com alguma chuva e uma ceta
nebelina não muito incomodativa, levou-nos até ao Café Arcada e colocou-nos à
vontade. Dois cafés, um para cada um, claro está, foram o princípio de tudo.
Depois foi falar, confidenciar e partilhar vivências. O que eu vou contar ao
amigo leitor é apenas uma pequena parte do montão de palavras que utilizamos.
Todos nós sabemos que em Fafe
há uma grande dinámica cultural, graças ao engenho, visão e capacidade
organizativa das nossas associações, instituições, freguesias e município. Não
admira, por isso, que esta terra tenha sido, ao longo dos anos, palco de
iniciativas culturais de relevo. Ora bem, se assim é, e principalmente quando a
alma fafense se une em torno de causas maiores, tudo vai mais longe e as flores
não precisam da primavera para florescer.
Depois de assuntos variados e
como que introdutórios, a dada altura, uma pergunta mais direta do meu
companheiro de mesa, fez com que eu parasse um pouco para pensar, para, logo de
seguida, lhe responder com bastante convicção. O que ele me perguntou, de uma forma tão
afouta e intencional, fez com que eu sorrisse um pouco e decorasse toda a
frase, pormenor que nem sempre acontece.
“- Ó Carlos, quais são as iniciativas
culturais que este ano ou no próximo gostarias de organizar?”
E eu respondi:
“- Meu amigo, como tu sabes, a
minha forma de ver a cultura e o fervor com que me apego ao seu significado,
conduzem-me, constantemente, por águas não muito profundas, águas que não me
impedem de passar de um lado para o outro de quaisquer margens.
O ser membro efetivo de
algumas associações do concelho e relacionar-me bem com as outras, o ser
professor de alunos empenhados e tão sonhadores como eu e o partilhar anseios
culturais com muitos amigos com quem privo todos os dias, como é o teu caso,
fazem com que te diga de viva voz o que te quero, desde já dizer.
Eu sei que alguns eventos
serão mais viáveis de concretizar do que outros, devido a muitas circunstâncias,
mas como é só para de dizer o que gostaria
de fazer e mais nada, aqui vai:
- organizar uma antologia
literária dos escritores fafenses; promover eventos centrados em autores da nossa
terra; criar uma revista cultural alinhada com os interesses culturais
fafenses; favorecer um concurso de poesia entre escolas; fazer das Jornadas
Literárias de Fafe um marco literário reginal e nacional; dar asas a Fafe dos
Brasileiros (inspirado no nosso saudoso Miguel Monteiro), em que a nossa
etnografia e memórias fizessem com que o sol da cultura aquecesse todo o
concelho e trouxesse muitos milhares de visitantes a Fafe, situação ideal para
revitalizar espaços materiais e imateriais; dar a azo a que o roteiro camiliano
(Camilo Castelo Branco) se materializasse de vez e os caminhos por onde o
escritor andou ganhassem mais vida; contribuir positivamente para que em Fafe
de definisse um programa cultural geral e comum, que desse oportunidades iguais
a todos a sassociações e demais agentes culturais do concelho e …
- Não achas que estás a
exagerar? Como é que achas que conseguirias ir tão longe? Onde é que
arranjarias tempo e forças para tanta coisa? Quem é que alinharia nesse teu
montão de vontades? – argumentou o meu parceiro de conversa, impedindo, assim,
de eu continuasse a desfiar o meu rosário de iniciativas sonhadas e ansiadas.
- Sei lá – respondi eu, depois
de pensar um pouco. - Bem, pelo memos podiamos concretizar algumas destas ações,
bastando apenas a vontade e o acreditar das forças vivas do nosso concelho, e
um grande espírito de união e força. E como tu já viste nos anos anteriores, em
alguns momentos, isso foi possível…
- Na verdade …”
A nossa conversa à mesa do
Café Arcada ainda continuou por mais algum tempo, mas vou ficar por aqui,
porque o meu querido leitor, com certeza, tem mais que fazer. No entanto, só um
pedido sincero, Leiam outra vez o que eu acabei de escrever e reflitam na mensagem
que podem deduzir da ousadia destas minhas palavras… Afinal, o sonho é o
princípio de tudo, principalmente quando se mora numa terra que ama a cultura e
em que a paisagem que a decorra é da mesma cor da esperança…
Carlos Afonso
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