(Este
texto surge da necessidade de dar algumas respostas e esclarecimentos às muitas
perguntas que me têm sido dirigidas, nestes últimos tempos, por parte de professores,
Presidentes de Junta, responsáveis de várias associações culturais e outras
pessoas em particular, relativamente às próximas Jornadas Literárias de Fafe, a
realizar em 2014.)
Um
grande poeta português escreveu um dia que os MITOS não se inventam, eles nascem
e crescem de acordo com a vontade e a necessidade de um povo. E se assim é, não
admira, no meu modesto entendimento, que Fafe também tenha vivenciado esse
destino ao longo da sua história.
Desde
há uns anos para cá que em Fafe está a ser construído um projeto cultural,
sempre em crescendo, com objetivos claros e dignos, cuja seiva que o vai
alimentando advém do suor, sonhos, alma, tempo e coração de muitos fafenses.
Ainda me lembro a hora e o local
como tudo começou. Estávamos em outubro de 2009, numa aula de Literatura
Portuguesa, altura em que questionei os meus alunos acerca do que iriamos fazer
no Projeto Individual de Leitura, componente obrigatória da disciplina. Numa
resposta visionária, uma aluna adiantou-me que podíamos estudar os escritores
de Fafe e “(…) fazer algo como umas Jornadas Literárias, professor(…)”. Bendita
a hora em que a minha aluna disse o que lhe nascera no entendimento, pois, e a
partir daí, a nascente do rio começou a jorrar e nunca mais deixou de correr.
Assim, e logo em março de 2010, a Escola Secundária de Fafe, o ventre materno
das Jornadas, interligou-se com a Câmara Municipal e, em parceria, começaram a
erguer tão importante construção: as Jornadas Literárias de Fafe.
Se no início o rosto do evento, ainda a
dar os primeiros passos, era apenas literário e muito ligado aos escritores
fafenses, com os anos, outras metas se foram abrindo e outras vertentes
culturais vieram à luz do dia. E tudo foi acontecendo e crescendo, porque mais
agentes se associaram ao projeto, concretamente, Escolas, Município,
Freguesias, Associações e Instituições. Isto é, todo o Concelho de Fafe,
imbuído de um só peito e amor a Fafe, ergueram a sua vontade e têm trabalhado
em prol das «Jornadas Literárias de Fafe».
Quando olhamos para a bandeira que define
as Jornadas Literárias podemos ler e sentir mensagens lindas, sugerindo toda
uma unidade que nasce na diversidade das gentes que habitam as terras de Fafe.
As suas reais cores, em forma de telhas, idênticas às que cobrem o casario de
traça brasileira que enfeita as nossas ruas, mostram que a verdadeira cultura
abarca o fio que ata a existência de todos os fafenses. As Jornadas Literárias
abraçam e misturam todas as cores políticas, clubísticas, associativas,
administrativas, bairristas, etc… derivando daí uma substância incolor e pura:
AMOR A FAFE…
Se a ideia das Jornadas me foi
oferecida numa sala de aula, na Escola Secundária, a ideia de fomentar a
iniciativa «Fafe dos Brasileiros» veio à luz do dia, quando numa bela tarde,
descendo a escadaria da Casa da Cultura, com o livro de Miguel Monteiro, com um
título bem do tamanho de dois continentes e um oceano, debaixo do braço, me foi
segredado à inspiração para continuar o que tinha sido começado. Dali, fui
tomar um café à Brasileira, onde, com ajuda de um papel em branco e uma caneta
quase gasta, escrevinhei a intenção de colocar no programa das Jornadas
Literárias uma nova visão. E foi desta forma que o passado começou a
movimentar-se num presente com futuro. Uma minha participação na «Rota da
Desfolhada», em Várzea Cova, ajudou a definir o que faltava.
Nos finais do Séc. XIX e princípios do
Séc. XX, muitos fafenses fomentaram a demanda entre dois povos, Portugal e o
Brasil, numa torna viagem com muitos sucessos. No Séc. XX, 1991, Miguel
Monteiro, um homem visionário e com muito querer, colocou em livro histórias e
rumos, dando-lhe o único título possível: «Fafe dos Brasileiros». Já no Séc.
XXI, e porque tinha de ser assim, tive a sorte de poder dar início a uma outra
perspetiva que poderá ir muito longe e imortalizar quem de direito e por
necessidade. Comecei, assim, a partir de alicerces bem assentes em factos da
história e na lucidez e mestria de Miguel Monteiro, a definir uma outra
vertente de «Fafe dos Brasileiros».
Com a ajuda das escolas, freguesias e
associações de todo o Concelho e Município, mais um grupo de amigos, tão enlevados
pela cultura como eu, a onda branca assomou na praia e foi de ilha em
continente e poderá, se os fafenses assim o quiserem, ir até ao fim do mundo.
Foi o acreditar numa visão necessária por parte de todo um conjunto de pessoas
com alma e crença que conduziu a que novas peças se interligassem ao projeto
cultural que se está a fomentar em Fafe.
E foi
assim que «Fafe dos Brasileiros» se apegou às «Jornadas Literárias de Fafe».
No ano de 2013, as Jornadas Literárias
brilharam no campo cultural de Fafe, atingindo um patamar muito alto. E bem
dentro de toda a sua abrangência e transversalidade, «Fafe dos Brasileiros»
mostrou os seus princípios, e que foram muito bem entendidos e ovacionados, na
sua capacidade de entrelaçar a cultura, o turismo e a riqueza económica. Mas, e
porque a vida é assim, está na hora de melhorar e afinar o novo horizonte que
se avizinha. A forma como «Fafe dos Brasileiros» se assumiu leva a que outros
caminhos se percorram, situação que tem de conduzir a um desenhar de forma mais
global a cultura que se esboça em Fafe.
Na verdade, foram as «Jornadas
Literárias de Fafe» que “pariram” «Fafe dos Brasileiros», mas, agora, está na
hora do “filho” voar noutro sentido para poder crescer. Ao criar-se uma nova
denominação, como já há muito tem vindo a ser defendida, leva a que não haja
confusões e a que a vertente mais etnográfica não choque com a visão mais
literária. Assim, as futuras «JORNADAS CULTURAIS DE FAFE» surgirão do conjunto
das novas «Jornadas Literárias de Fafe» e de «Fafe dos Brasileiros», a realizar
em alturas diferentes e adequadas às circunstâncias e realidades.
Ora bem, mas para quando esta
nova visão e esta diferente perspetiva?
Quanto às novas “Jornadas Literárias
de Fafe”, assentes numa vivência mais voltada para a literatura, onde a
escrita, a leitura e a criatividade assumem linhas de destaque, elas
realizar-se-ão nos dias 19,20 e 21 de março, englobando o «Dia Mundial da
Poesia». A ligação às escolas e a organismos literários será realçada e
fomentada.
Relativamente a «Fafe dos
Brasileiros», centrada numa dinâmica cultural, turística e económica, a sua
concretização terá que ser desenvolvida numa altura mais propícia, permitindo
uma maior utilização de espaços ao ar livre e contando com a presença dos
nossos emigrantes.
Igualmente,
terão de desenvolver-se condições, para que as freguesias, associações e as
pessoas responsáveis pela sua realização possam deitar mãos ao trabalho e
fazerem de «Fafe dos Brasileiros» uma fonte de riqueza para as terras de Fafe.
Não convém esquecer o que acontece em Santa Maria da Feira ou em Óbidos. Nesta
nova caminhada, pouco ou nada pode fazer um grupo de amigos, onde eu me incluo,
com muita vontade e ideias, mas sem as condições necessárias para arrancar e
seguir.
Se as entidades económicas e
políticas que regem o Concelho de Fafe tiverem mais ousadia e vontade, libertas
de alguns preconceitos e medos, poderão ajudar a construir uma iniciativa muita
frutífera para Fafe. Não esquecer que o Município, Freguesias, Associações e
muitas pessoas em particular já mostraram do que são capazes. Com mais ajudas e
incentivos poder-se-á fazer muito mais e melhor.
Tenho a
certeza que «Fafe dos Brasileiros», e se as pessoas que o podem ajudar a fazer
quiserem, poderá ser um excelente meio de promover as tradições, a gastronomia,
a música, a arquitetura e as memórias de todo um povo, associando a cultura e o
turismo com o desenvolvimento económico.
NUNCA
PODEMOS ESQUECER QUE O PASSADO, OLHADO COM CRIATIVIDADE E AMOR, PODE CONDUZIR A
UM FUTURO MAIS BRILHANTE E FELIZ.
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