A história
que hoje, dia 14 de julho de 2013 e dia da Senhora de Antime, surgiu de uma ocorrência
verdadeira que se me deparou a meu olhos e que muito me emocionou.
Como todo o Minho sabe, as
festividades da Senhora de Antime, em Fafe, são muito intensas e participadas,
em que as grandiosas procissões de Antime para Fafe e vice-versa assumem o seu
ponto mais alto. É curioso este ritual tão próprio, derivado em lenda e
tradição, pormenores que fazem com que a Senhora da Misericórdia visite Fafe
por um dia. Pela manhã, carregada por valentes rapazes desloca-se festivamente,
acompanhada por milhares de fiéis, para depois, ao final da tarde, regressar à
sua morada santa, na Igreja Paroquial de Antime E foi na procissão de regresso
que aconteceu o que gostaria de vos contar.
Como de
costume, e porque o povo ama os ensinamentos que derivam do seu acreditar, a
procissão de regresso tem por hábito fazer uma paragem no Lombo, um lugar bem
pertinho do rio Ferro e onde eu moro. Assim, este dia de julho, um dia quente
de verão, mas que ao cair da noite foi abençoado com uma farta rega vinda dos
céus, permitiu-me ver e sentir uma cena comovente e bem próprio de um contexto
quase de milagre, acredito eu.
Já parado no
meio da multidão que aguardava a chegada da Senhora, lancei o olhar e a alma em
meu redor e foi-me permitido vislumbrar gentes de vários feitios e rostos, mas
todas elas com o propósito mergulhado na fé, uma fé que, e porque assim
acreditarmos, nos pode salvar. A dada altura, bem ao meu lado, e no mesmo instante
em que a Senhora da Misericórdia chegava, ouço a voz baixa, tingida de um
gritar abafado e repetido, de uma senhora de escuro vestido:
- Ó minha
Nossa Senhora! Ó minha Nossa Senhora!
Atento, e
com o coração apreensivo, voltei-me para quem implorava e escutei outra vez as
mesmas palavras, agora com um acrescento a registar:
- Ó minha
Nossa Senhora, guia o meu filho!
Em redor, os
cânticos ecoavam nos céus, milhares de “papeizinhos”, esvoaçam, a Senhora da Misericórdia
com o filho ao colo, com a sua postura calma, contemplava lá do alto os seus
devotos, enquanto a charola seguia devagar e a mulher de escuro vestida repetia
a sua súplica. Só que, a dada altura, as suas palavras começaram a enfraquecer
e a ser cada vez mais angustiadas. E, pouco depois, a suplicante mulher
desmaiava, deixando-se cair, amparada pelas pessoas que a circundavam. Já no
chão, e enquanto a aflição tomava conta dos que àquela cena assistiam, ouço uma
outra voz:
- Coitada, o
filho partiu para Angola na sexta. Ele foi trabalhar para lá… Ela não aguentou
da emoção e desmaiou. Coitada, estava a pedir ajuda à Virgem!
Pouco
depois, os bombeiros chegaram e uns tantos procedimentos foram tomados, até à
altura em que a mulher de negro vestida foi levada para o hospital.
Amigo leitor,
digam o que disserem, mas para mim foi tudo muito claro. A mulher de negro
vestida, ferida pela ausência do filho, pediu ajuda e proteção à Virgem e o
milagre aconteceu.
De certeza que, por momentos, a
mulher pedinte cerrou os olhos para a realidade de Fafe e foi visitar o seu
filho a Angola, para ver, com a sua alma, como ele estava. A Senhora da Misericórdia,
também Ela uma Mulher que sofreu por causa do seu filho tão amado, achou por
bem atender àquele rogo tão aflito.
Só um pormenor, no momento em que era
levada pelos bombeiros, reparei que os olhos da mulher suplicante já estavam
abertos, tingidos, agora, de uma calma de mãe sossegada. Afinal o seu filho
estava bem e em paz.
“Ave-Maria, cheia de graça!
O Senhor é convosco
Bendita sois vós entre as mulheres
E Bendito é o Fruto do vosso ventre,
Jesus
Santa Maria Mãe de Deus,
Rogai por nós os pecadores
Agora e na hora de nossa morte. Amém”
Carlos
Afonso
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