quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A menina e a estrela de Natal…


 



Amigo leitor, a história que hoje vos quero contar enquadra-se plenamente no espírito de Natal e tem no seu exórdio um acontecimento bem real, ocorrido no Club Fafense, espaço maior da cidade de Fafe, numa altura em que estava a preparar mais um evento cultural. Estávamos em dezembro, era sexta-feira e ainda não passava das seis horas da tarde.

- Ó senhor professor Carlos, qual é a estrela que trago logo à noite? Eu tenho duas muito bonitas, lá em casa – perguntou-me a pequena Joana.

- Olha, traz a mais brilhante.

- Está bem, obrigada – respondeu-me de uma forma afetuosa, para logo de seguida acrescentar mais meia dúzia de palavras – Se precisar de ajuda, diga.

- Para já não preciso. Senta-te nessa cadeira e treina mais um bocadinho o poema que logo vais declamar, está bem?

- Está bem, obrigada.

Sem mais, deixou escapar um sorriso e sentou-se. Desdobrou a folha que tinha nas mãos, concentrou-se no que ia começar a fazer e leu só para ela:

 

«A estrelinha de Natal  

 

No céu apareceu uma estrela

Vinda dos lados do oriente

Três reis vieram com ela

Trazendo consigo um presente.

 

Contentes por seguirem a luz

Que os trouxe até Belém

Os reis encontraram Jesus

Que veio ao mundo para nosso bem.»

 

Joana tem apenas sete anos, anda na Escola Primária, mas a sua graciosidade é tal e o encanto do seu sorriso mostra tanta verdade que nem a estrela mais brilhante, daquelas que incendeiam o céu quente de uma noite de junho, lhe serve como termo de comparação. Como é lindo a realidade de uma criança feliz!

Bem! Depois deste episódio tão salutar, e só para complementar com alguns pormenores, digo-lhe, caro leitor, que a pequena Joana fez uma bela declamação e a noite de Natal que aconteceu no club Fafense, no dia 14 de dezembro, só teve o brilho que teve porque a estrela que ela trouxe de casa brilhou que se fartou.

Ora bem! Quando nessa noite cheguei a casa, e, já embrulhado nos lençóis de flanela, revi o que tinha acontecido no evento cultural. Evento esse que também contara com a participação de alguns dos meus alunos de Literatura Portuguesa, assim como o Coro de Pais e Amigos e outros músicos da Academia de Música José Atalaya, tal como da presença da pequena Sofia, que também foi brilhante no seu papel de atriz. Assim, não só me senti satisfeito como tudo decorreu, como a prestação da minha amiga Joana me trouxe à memória uma outra história muito antiga. Uma história que me foi contada por uma senhora muito velhinha e amada, há muitos anos atrás, na altura em que eu, ainda criança, ajudava a construir o presépio na igreja da aldeia onde nasci, Parada, lá bem no coração de Trás-os-Montes.

Como eu gostava de voltar aquele outrora, meu Deus!

E porque me apetece contá-la, e porque tenho quase a certeza de que foi essa querida velhinha que a inventou, aqui deixo essa outra história, deitada numas palhinhas repletas de saudade, paz e amor!

«Há muitos, muitos anos, numa terra muito distante, um homem e uma mulher tiveram de fazer uma viagem a uma cidade chamada Belém. Essa mulher estava à espera dum filho que estava quase, quase a nascer. Quando chegaram a essa cidade, não encontraram um único quarto para poderem passar a noite, pois todos as hospedarias estavam cheias. Por isso, só conseguiram encontrar um pequeno estábulo para passarem a noite e descansarem da sua longa jornada.

Já bem tarde, e enquanto já toda a cidade dormia, essa mulher deu à luz um lindo menino que encheu de alegria os seus pais. Aquecido pelo colo da mãe e pelo bafo fofinho dum burrinho e duma vaquinha que ali moravam, aquele menino abriu os olhinhos, sorriu e começou logo a brincar.

De repente, e sem que ninguém contasse, uma luz muito brilhante encheu o estábulo e todos os anjos do céu estavam ali para visitarem aquele menino que não se cansava de sorrir e brincar. Cada um dos anjos trouxera como presente uma estrela para oferecer à criança que havia nascido e, por isso, todo o estábulo ficou tão cheio, tão cheio, que não cabia nem mais um fiozinho de luz. Nesse momento, e para espanto de todos, o menino falou e causou alguns embaraços.

 O menino, rechonchudinho de cara, agradeceu aos anjos por lhe terem trazido tantas e tantas estrelinhas, mas disse-lhes com todas as letras que, naquela noite, só queria ficar com uma. Ora os anjos, que tiveram uma trabalheira para arrancar todas as estrelas do céu, admirados, quiseram saber a razão do seu pedido. Eles tinham direito a uma explicação. Com os olhinhos a brilhar e os pezinhos a mexer, o menino disse-lhes que queria que voltassem a colar as estrelas no céu, pois elas tinham que continuar a iluminar as noites dos homens e que, também, elas iriam ter uma outra serventia. Assim, pediu-lhes que todos os anos viessem à terra, no dia 25 de Dezembro, e que trouxessem uma estrela, e que a oferecessem a todos os meninos para que nunca se esquecessem da importância daquela noite, uma noite em que uma criancinha, nascida numa manjedoura, mostrou a todos os homens de boa vontade que o amor é o sentimento mais belo e puro que deve morar nos corações.

Claro que eles concordaram

Desde essa altura, e já lá vão mais de dois mil anos, e sem que nunca se tenham esquecido da promessa, os anjos descem à terra e trazem uma linda estrela de Natal, para que todas as crianças do mundo se lembrem do sorriso daquele menino que nasceu em Belém.»

FELIZ NATAL PARA TODOS e um beijinho para a Joana

                                                                                             

                                                                                                        Carlos Afonso

       

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