Amigo leitor, a história que hoje vos
quero contar enquadra-se plenamente no espírito de Natal e tem no seu exórdio
um acontecimento bem real, ocorrido no Club Fafense, espaço maior da cidade de
Fafe, numa altura em que estava a preparar mais um evento cultural. Estávamos
em dezembro, era sexta-feira e ainda não passava das seis horas da tarde.
- Ó senhor professor Carlos, qual é a
estrela que trago logo à noite? Eu tenho duas muito bonitas, lá em casa –
perguntou-me a pequena Joana.
- Olha, traz a mais brilhante.
- Está bem, obrigada – respondeu-me
de uma forma afetuosa, para logo de seguida acrescentar mais meia dúzia de
palavras – Se precisar de ajuda, diga.
- Para já não preciso. Senta-te nessa
cadeira e treina mais um bocadinho o poema que logo vais declamar, está bem?
- Está bem, obrigada.
Sem mais, deixou escapar um sorriso e
sentou-se. Desdobrou a folha que tinha nas mãos, concentrou-se no que ia começar
a fazer e leu só para ela:
«A
estrelinha de Natal
No
céu apareceu uma estrela
Vinda
dos lados do oriente
Três
reis vieram com ela
Trazendo
consigo um presente.
Contentes
por seguirem a luz
Que
os trouxe até Belém
Os
reis encontraram Jesus
Que
veio ao mundo para nosso bem.»
Joana tem apenas sete anos, anda na
Escola Primária, mas a sua graciosidade é tal e o encanto do seu sorriso mostra
tanta verdade que nem a estrela mais brilhante, daquelas que incendeiam o céu
quente de uma noite de junho, lhe serve como termo de comparação. Como é lindo
a realidade de uma criança feliz!
Bem! Depois deste episódio tão
salutar, e só para complementar com alguns pormenores, digo-lhe, caro leitor,
que a pequena Joana fez uma bela declamação e a noite de Natal que aconteceu no
club Fafense, no dia 14 de dezembro, só teve o brilho que teve porque a estrela
que ela trouxe de casa brilhou que se fartou.
Ora bem! Quando nessa noite cheguei a
casa, e, já embrulhado nos lençóis de flanela, revi o que tinha acontecido no
evento cultural. Evento esse que também contara com a participação de alguns dos
meus alunos de Literatura Portuguesa, assim como o Coro de Pais e Amigos e
outros músicos da Academia de Música José Atalaya, tal como da presença da
pequena Sofia, que também foi brilhante no seu papel de atriz. Assim, não só me
senti satisfeito como tudo decorreu, como a prestação da minha amiga Joana me
trouxe à memória uma outra história muito antiga. Uma história que me foi
contada por uma senhora muito velhinha e amada, há muitos anos atrás, na altura
em que eu, ainda criança, ajudava a construir o presépio na igreja da aldeia
onde nasci, Parada, lá bem no coração de Trás-os-Montes.
Como eu gostava de voltar aquele
outrora, meu Deus!
E porque me apetece contá-la, e porque
tenho quase a certeza de que foi essa querida velhinha que a inventou, aqui
deixo essa outra história, deitada numas palhinhas repletas de saudade, paz e
amor!
«Há muitos, muitos anos, numa terra
muito distante, um homem e uma mulher tiveram de fazer uma viagem a uma cidade
chamada Belém. Essa mulher estava à espera dum filho que estava quase, quase a
nascer. Quando chegaram a essa cidade, não encontraram um único quarto para
poderem passar a noite, pois todos as hospedarias estavam cheias. Por isso, só
conseguiram encontrar um pequeno estábulo para passarem a noite e descansarem
da sua longa jornada.
Já bem tarde, e
enquanto já toda a cidade dormia, essa mulher deu à luz um lindo menino que
encheu de alegria os seus pais. Aquecido pelo colo da mãe e pelo bafo fofinho
dum burrinho e duma vaquinha que ali moravam, aquele menino abriu os olhinhos,
sorriu e começou logo a brincar.
De repente, e sem que ninguém
contasse, uma luz muito brilhante encheu o estábulo e todos os anjos do céu estavam
ali para visitarem aquele menino que não se cansava de sorrir e brincar. Cada
um dos anjos trouxera como presente uma estrela para oferecer à criança que
havia nascido e, por isso, todo o estábulo ficou tão cheio, tão cheio, que não
cabia nem mais um fiozinho de luz. Nesse momento, e para espanto de todos, o
menino falou e causou alguns embaraços.
O menino, rechonchudinho de cara, agradeceu
aos anjos por lhe terem trazido tantas e tantas estrelinhas, mas disse-lhes com
todas as letras que, naquela noite, só queria ficar com uma. Ora os anjos, que
tiveram uma trabalheira para arrancar todas as estrelas do céu, admirados,
quiseram saber a razão do seu pedido. Eles tinham direito a uma explicação. Com
os olhinhos a brilhar e os pezinhos a mexer, o menino disse-lhes que queria que
voltassem a colar as estrelas no céu, pois elas tinham que continuar a iluminar
as noites dos homens e que, também, elas iriam ter uma outra serventia. Assim,
pediu-lhes que todos os anos viessem à terra, no dia 25 de Dezembro, e que trouxessem
uma estrela, e que a oferecessem a todos os meninos para que nunca se esquecessem
da importância daquela noite, uma noite em que uma criancinha, nascida numa
manjedoura, mostrou a todos os homens de boa vontade que o amor é o sentimento
mais belo e puro que deve morar nos corações.
Claro que eles concordaram
Desde essa altura, e já lá vão mais
de dois mil anos, e sem que nunca se tenham esquecido da promessa, os anjos
descem à terra e trazem uma linda estrela de Natal, para que todas as crianças
do mundo se lembrem do sorriso daquele menino que nasceu em Belém.»
FELIZ NATAL PARA TODOS e um beijinho
para a Joana
Carlos
Afonso