«Era uma vez uma gaivota que morava num
velho rochedo, encostado a um mar sem fim. Todas as manhãs, a ave levantava voo
e seguia, irrequieta, numa e noutra direcção, mas sempre a roçar a cor do
oceano. A sua ligeireza advinha-lhe da amizade que tinha com os ventos norte e
leste. A sua beleza foi-lhe oferecida pela maresia. A sua determinação era
arrancada, todas as noites, da força das ondas e o seu fado foi-lhe desenhado
pelas estrelas. Nunca em toda a sua vida de gaivota deixara de cumprir as suas
rotas e desejos, mesmo que se lhe deparassem pela frente tempestades ou sois
abrasadores. Mas, numa noite medonha de novembro, o seu destino quase mudou.
Das profundezas
do nada, um nevoeiro muito cerrado ergueu-se, aterrorizador, e envolveu o pobre
animal, prendendo o seu fascinante voar. Durante longas horas, a gaivota se
debateu com o seu terrível inimigo de cinzento vestido, mais insensível do que
as pedras, e nada. A luz dos seus olhos quase se apagou. O seu coração já não
sabia o ritmo acertado e as suas penas já estavam cansadas e mortas de sede.
Preocupado, o mar sem fim, que logo
sentiu a falta da sua habitual companheira, convocou a força dos ventos, a luz
das estrelas e o cheiro da maresia, que, de imediato, se apresentaram, e
decidiram por cobro a esta situação.
Como a união faz a força e a verdade
dos gestos e do querer é mais vigorosa e bela do que a apatia dos destruidores
de sonhos, a ave foi solta e o seu voo foi devolvido ao mar.»
E porque Deus assim o quer, a nossa
vida também pode ter finais felizes, basta, para isso, saber
reconhecê-los, quando eles nos aparecem bem à nossa frente, ainda que meio
sufocados por nevoeiros tingidos de várias cores.
Lutar pelos sonhos em que se acredita
é o primeiro passo para a imortalidade.
Carlos
Afonso
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