Desde sempre que o homem sabe que a sua sobrevivência passa pelo preservar das suas raízes, pois, se assim não fosse, há muito tempo que o futuro havia perdido a noção do seu passado. Quer isto dizer que um povo com memória é um povo com horizontes definidos no amanhã. E é por isso mesmo que em Travassós, uma das freguesias mais antigas de Fafe, uma feliz ideia, única em Portugal, está a ser trabalhada para que a tradição ancestral de trabalhar a palha não caia em desuso. Assim, um original e criativo concurso/desfile de traje de palha, na noite de sexta-feira, dia 23 de agosto, inserida nas festividades da Senhora da Graça, está a atrair todas as atenções. Não nos podemos esquecer que Travassós é famosa pela tradição na confeção dos chapéus de palha.
O concelho de Fafe já foi fértil em produções artesanais de artigos variados, onde a palha assumiu uma importância maior. Fafe já o maior produtor e exportador de chapéus de palha do país. Infelizmente, os artesãos foram envelhecendo, desaparecendo, muitos deles, cansados de não verem a sua arte devidamente reconhecida e muito menos compensada financeiramente. E é o que estava acontecer com a arte de trabalhar a palha, situação que as gentes de Travassós querem combater. Não só querem fomentar a produção de chapéus, como anseiam criar novos produtos, como, por exemplo, variadas roupas feitas a partir da palha.
Antigamente, era usual ver as mulheres a fazer a trança de palha, enquanto caminhavam de um lugar para o outro, aproveitando para fazer recados ou até simplesmente conversar, ou então nos serões das suas casas, enquanto os seus dedos ágeis entrelaçavam as palheiras.
Nas terras de Fafe, os chapéus de homem tinham uma aba e uma fita azul, os das mulheres do campo tinham uma aba larga e eram rematados com a trança de “repenic” e não tinham nenhum adorno, o objetivo destes chapéus, era simplesmente proteger do sol a cara e a cabeça das pessoas que andavam na lida do campo. Para as meninas, haviam de vários tipos, desde o mais simples ao mais trabalhado.
A palha para os chapéus, e agora para novas criações que estão na forja, vem da“ ferrã do centeio”. Depois de cortada, a palha é posta às faixas ou aos molhos. O passo seguinte é o corte, o qual vai dividir a palha em “adições “que são: «A da ponta, a do elo, a de nylon, a de repenic, a peixeira, o trancelim e a de renda. A trança de renda que é feita com 6 palheiras, a trança peixeira é feita com 7 palheiras, a de trancelim é feita com 5 palheiras, a de nylon é feita com 3 palheiras e a de repenic com três. E ainda se faz trança com 9, 7 e de 11 palheiras. As tranças são feitas sempre em número ímpar com exceção da trança de renda. A palha depois de cortada é demolhada, para ficar maleável para mais facilmente ser trabalhada.»
Sem sombra de dúvida que a iniciativa cultural de promover um concurso/desfile de «Traje de palha» é uma forma muito interessante de preservar a tradição de trabalhar a palha, assim como uma nova maneira de recriar e adaptar às novas realidades todo um passado ainda vivo. O turismo e a nova visão da palha podem, assim, surgir unidos em favor de Fafe, com o sentido posto no mundo.
Pessoalmente, terei muito gosto em estar presente, e espero que as forças vivas do concelho também o façam, pois é do progresso de Fafe que estamos a falar.
Carlos Afonso
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