sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Pedaços de um Minho florido
Por muito que as invernias e as noites mais escuras assolem os espaços e as vidas, há sempre um dia primaveril, um luar repleto de afeição ou uma manhã mais doce que ajudam os incautos humanos a percorrer os caminhos ou a olhar mais longe. Se assim não fosse, as estações do ano já teriam perdido o seu sentido e a esperança já se teria afogado nas nascentes.
Para quem vê televisão, lê um jornal, escuta conversas do dia-a-dia, rege a casa, ouve os senãos dos filhos, vai ao mercado ou repara nos lojistas encostados às soleiras das portas, imediatamente sente as arestas afiadas de uma crise repleta de buracos sem fundo, olhos cobiçosos, justificações mal fundadas e desmandos fora de controlo. O que vale é o que se consegue enxergar no outro lado da moeda. O que vale é que ainda há muitas vivências preciosas e gestos do tamanho dos sonhos. E porque o que estou a dizer é verdade pura e com evidências, peguem nas minhas palavras, disponham-nas como quiserem e sigam-me.
Setembro é, por natureza, um mês de contrastes que, só por si, ajudam os homens a vestir roupagens especiais e colher experiências e momentos diferenciados. As vindimas enfeitam os nossos campos, as folhas mostram os seus queixumes, os alunos voltam à escola, as cidades exibem as suas grandezas, os contadores de histórias concluem os seus enredos, as gentes de bem oferecem os seus gestos e as palavras nem todas sabem a ranço e a vazio. Para esta circunstância só nos interessa o que eu vou contar, e que, por sinal, prova que o Minho também se enche de flores nesta época do ano. Ora vejam.
Em maneira de introdução, e antes de vos ofertar alguns pedaços do meu mês de Setembro, peço apenas um copo de água e um olhar mais atento. Obrigado
Para quem não conhece o meu amigo Albano e a sua simpática família, quero dizer-vos que não sabem o que perdem. Claro que eu poderia apresentar aqui mil e uma razões para justificar a minha asserção, mas não o vou fazer. Apenas vos quero expor um simples motivo exemplificativo, e que para mim já prova muito. Participar na sua inigualável vindima, lá para ao lados de Armil, repleta de suculentos cachos de uvas, uma paisagem serena, lautos merendeiros, dizeres castiços, um vinho de excelência produzido lá na quinta, uma organização a enaltecer e gente muito querida, é mergulhar na beleza do nosso Minho Florido. Espero viver muitos fins de verão, descer todos os anos a encosta que me leva aos terrenos do meu amigo e colher muitas graças e sentimentos a cheirar a mosto nas suas vindimas.
Outra ocorrência que fez, de igual modo, florir os meus dias foi visitar a mui antiga e famosa cidade de Guimarães por alturas da sua feira medieval afonsina. Que riqueza de iniciativa! Que evento tão cuidado! Que saborosas castanhas, ainda que algumas já parecessem da época a que reporta a iniciativa! Meus amigos, por alguma razão, esta cidade, a que chamam o berço da nacionalidade, foi escolhida como capital europeia da cultura. Como é maravilhoso um povo nunca perder a sua memória e fazer questão de a utilizar para cimentar o seu futuro!
É curioso! No momento em que olhava todo aquele contexto medieval, repleto de cor e perfumes de outros tempos, lembrei-me de algo que quero partilhar neste espaço com vocês. Quando chegará o momento de Fafe pegar na sua herança brasileira e fazer algo do género? Penso que fomentar na Sala de Visitas do Minho uma iniciativa cultural com esta amplitude só viria a enriquecer o que nos foi legado pelos antepassados. De certeza que o meu amigo Miguel Monteiro, lá do lugar etéreo onde se encontra, não levará a mal esta ousadia da minha parte. Talvez um dia, e se calhar não faltará muito tempo, todo o país ficará a saber que em Portugal há uma terra no norte, encaixilhada entre dois rios, o Ferro e o Vizela, que ama as suas origens e que tem todo o gosto em recriá-las, para que o passado não fique apenas preso às paredes dos edifícios ou colado nas páginas dos livros. Fafe dos Brasileiros poderá ser uma realidade se os responsáveis económicos e políticos deste amor de cidade assim o entenderem. Quanto ao povo que por aqui habita, alma e vontade não lhe faltarão para aderir a este grande projecto, e, finalmente, poder ressuscitar-se toda uma existência que alimenta as memórias e tinge as correntezas do tempo de cores verdes graníticas, temperadas com amor e futuro. Pensem nisto, e depois digam alguma coisa.
Todos sabemos que quantas mais flores adornarem um jardim mais pomposo e esbelto ele se torna.
Por exemplo, se prestarmos alguma atenção aos acontecimentos culturais que têm iluminado a nossa terra, uma grande satisfação percorre a aragem que nos mantém vivos. O meu amigo Artur Coimbra, um grande investigador, um fazedor de versos como poucos e um homem a quem Fafe cultural muito deve, reeditou mais uma das suas publicações centrada no Major Miguel Ferreira. A Junta de Freguesia de Antime recebeu tão importante acontecimento e eu estive lá. Também o meu estimado amigo Acácio Almeida editou mais um livro, Esvoaços 2. E tal como aconteceu nos anteriores, mas agora de uma forma mais depurada e madura, um misto de coração, natureza desenhada, versos perfumados, alma nostálgica, palavras convictas e um engenho natural enredaram-se numa teia de talento que me satisfazem completamente. Parabéns.
Para terminar, e por muita pena minha, pois ainda havia muita coisa bonita para mostrar, apenas quero evidenciar o gesto simpático dos meus antigos alunos de 12ºR que me convidaram para jantar e me deram a beber a sua forte amizade e as suas palavras, que jamais esquecerei. Para eles, o meu peito estará sempre aberto. Para eles, as minhas mãos nunca se cerrarão. (Até sempre e que as aves vos ensinem a nunca perder o rumo.)
Agora um pequeno parêntesis, mesmo sabendo que o que vos vou contar merecia mais de dez páginas, o tempo quase que suficiente para gastar todos os adjectivos que compõem a estante das palavras mais belas. A Kairos, produções culturais, dos meus amigos Celina e José Rui, promoveram uma iniciativa que começou nas salas do Museu das Migrações e das Comunidades, passou pelo auditório da Casa da Cultura e chegou até ao céu. Viagens - memórias da emigração, convidou-nos a embarcar numa viagem com destinos marcados, tendo ao nosso lado o som do acordeão de Cristiano Martins e as notas sentidas do guitarrista José Duarte. Celina Tavares emprestou-nos a sua voz e nós partimos. Que viagem maravilhosa! Para quem perdeu uma iniciativa tão original e linda como esta, apenas digo que os anjos existem, pois estiveram bem à minha frente.
Fico-me por aqui. Até breve e que o Minho continue florido.
Carlos Afonso
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