domingo, 5 de fevereiro de 2012

O homem mais rico das terras de Fafe







Muitas vezes, os dias oferecem-nos instantes tão preciosos que até parece que encontramos o maior tesouro do mundo. Claro que o conceito de riqueza não é unânime para todos os homens. E só assim se entende que os sorrisos mais belos não discorrem do cintilar do ouro, mas sim de uma cor, de um gesto, de um olhar ou de uma palavra. Jamais um punhado de diamantes conseguirá abafar a fortuna incontável do Senhor que conheci em Fafe, um homem para quem o tempo não tinha horas precisas e o céu era do tamanho da sua vontade.
Aquele dia de Janeiro de 2011 acordara frio, apesar da meia dúzia de raios que sulcavam o horizonte. Um pouco enfriado, subi à cidade e atirei-me pelas ruas adentro. O que ia encontrando ao longo do meu percurso não me ia causando demasiada admiração, apesar de nunca olhar da mesma maneira para a mesma coisa ou a para mesma gente. Mas, a dada altura a emoção cresceu e fui obrigado a tirar as mãos dos bolsos. Do longe foram-me arremessadas algumas palavras. Curioso em saber quem me chamava, esforcei o passo no sentido preciso e, depois, estaquei.
Numa das esquinas do Clube Fafense, do lado do Café Arcada, um homem bem mais velho do que eu, de casaco apertado e com a cabeça protegida com um chapéu igualzinho ao do meu pai, repreendeu-me:
- Estava a ver que não me ouvia…
- Desculpe, … mas eu conheço-o? – Acrescentei meio admirado.
- Se calhar não, mas eu sei quem o senhor é. Reparei em si, aqui há uns dias, quando foi com uns amigos seus à minha aldeia, para falar com o Sr. Presidente da Junta.
Perante esta certeza toda, sempre lhe quis escutar mais alguns esclarecimentos:
- Mas quando foi isso?
- Foi na terça feira passada, lá por volta das nove horas da noite… eu acho que…
A partir daqui tudo se esclareceu. Na verdade, eu estivera na sua aldeia, pois eu tinha uma reunião com as Associações e o Presidente da Junta. Aliás, eu não ia sozinho. Os meus colegas Fátima Caldeira, Etelvina Castro e Paulo Teixeira partilhavam comigo essa incumbência. O que nós fomos fazer à terra deste nosso amigo está relacionado com o grande evento cultural Fafe dos Brasileiros que irá decorrer em Fafe, nos dias 16,17 e 18 de Março.
Antes de avançar esta pequena história repleta de riquezas e palavras plenas de saber, preciso de acrescentar uma certeza que me fascina. Tem sido maravilhoso trabalhar com aqueles três amigos, para quem o tempo não conta, apenas porque a cultura tem os minutos todos. Digo-vos, caros leitores, que não é qualquer um que, depois de um dia trabalho, pega na pasta e, sem que ninguém lhe pague para isso, vai de aldeia em aldeia, de casa em casa, de associação em associação a espalhar a ideia de que Fafe é grande e tem raízes culturais puras e arreigadas. Claro que o povo é sábio e tem reconhecido a nossa intenção. De certeza que março não vai trazer só sol, primavera e esperança…
Voltemos à história.
Como havia dito, depois de alguns esclarecimentos, o tal senhor convidou-me para tomar um café no Arcada, pois tinha algo muito importante para me dizer. Como ele já sabia o conteúdo da minha conversa com as tais pessoas da sua terra, e como alguém lhe dissera que eu tinha o hábito de calcorrear as ruas da cidade àquela hora, já há uns dias que me procurava. Depois de mais alguns acrescentos, anunciou-me que também queria participar nas recriações culturais que estávamos a prepara para o evento Fafe dos Brasileiros. Disse-me que ia vestir a roupagem dele mesmo: um homem do campo que gosta da natureza e de comer nozes no fim da tarde. Acrescentou, ainda, que traria a sua cadela Malhada e a sua flauta, para que Fafe soubesse que a música mais bela nasce de uma fonte qualquer.
Meus amigos, o senhor que eu encontrei junto ao Clube Fafense encheu-me de histórias, novidades e de um prazer que me satisfez. Falou da sua meninice, da sua reforma de duzentos e poucos euros, da sua horta no tempo do feijão verde, da altura em que conhecera a sua falecida esposa, da forma especial como assa as sardinhas, da tarde em que arremessara uma paulada a um desgraçado que lhe quisera roubar a carteira e muito mais. No fim da conversa, e só porque o meu telemóvel tocou, concluiu assim:
- Está ver… Eu posso dizer que sou o homem mais rico das terras de Fafe.
É evidente que eu concordei.
Carlos Afonso

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